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Oficina de Criatividade com Idosas Institucionalizadas

Universidade Paulista - São Paulo - 2003
Wilma Antonia Nubiato

Trabalho final apresentado à área de estágio “Oficina de criatividade”, do 5º ano do curso de Psicologia da Universidade Paulista, sob supervisão da Profª. Drª. Christina M. B. Cupertino


À minha querida família que sempre esteve a meu lado durante estes anos de estudo.

Agradeço à Profª. Dr.ª. Christina M. B. Cupertino por apresentar-se sempre como uma dedicada mestra. Agradeço também, às idosas que gentilmente participaram de minha pesquisa

  • NUBIATO, W.A. Oficina de Criatividade Com idosas institucionalizadas.
    Oficina de Criatividade, Curso de Psicologia, Instituto de Ciências Humanas,
    Universidade Paulista – Centro de Psicologia  Aplicada, 2003.

    RESUMO

    O objetivo desta pesquisa foi relatar a experiência da implantação e avaliação de uma Oficina de Criatividade na Associação Madre Teodora dos Idosos, analisando as possibilidades de uso e os efeitos de uma Oficina com esta população.A Associação foi fundada em 1989 pela Irmã Natalina Cerchiiaro, sem vínculos ou ajuda de nenhuma entidade religiosa ou política, com o objetivo de recolher e instalar idosos que eram encontrados na rua. As Oficinas de Criatividade são espaços propícios para o desenvolvimento pessoal e social das pessoas que as integram. A partir da utilização de recursos expressivos tais como colagem, desenho, pintura, argila, massa, expressão corporal, música, entre outros, as Oficinas de Criatividade pressupõem a capacidade de transformações das pessoas através da expressão. A Oficina na Associação foi realizada em oito encontros semanais com aproximadamente duas horas cada, entre Agosto e Outubro de 2003. Antes disso visitamos a instituição por quatro meses, para criar o vínculo com as idosas, e permanecemos lá até o momento. O trabalho foi oferecido para as 26 idosas internas, com idades variando entre 60 a 90 anos. Cada atividade contava com a presença das idosas que estivessem motivadas e aptas fisicamente para participar. As atividades foram planejadas com uma certa flexibilidade, a partir das necessidades que emergiam do grupo. Os dados foram registrados através de fotos e gravações dos trabalhos e depoimentos de cada uma sobre as atividades realizadas. As atividades facilitaram a integração entre as idosas O apoio físico e afetivo.Apossibilidade de conversar e trocar experiências. A retomada e ressignificação de experiências de vida.. A exploração de possibilidades antes abandonadas. A constatação dos limites do envelhecer. A relação com a instituição, às relações positivas e relações negativas. De acordo com a literatura sobre Oficina de Criatividade, constatamos que a prática em instituições segue outros caminhos. As circunstâncias encontradas nessa instituição não permitiram que fosse feitas uma oficina nos moldes tradicionais, com grupo fixo e atividades estruturadas. Mas o trabalho com recursos artísticos pode ser feito respeitando os recursos da população atendida. Para implantar a oficina na instituição como voluntárias, percebemos que o voluntariado é contato humano, relação de pessoa a pessoa, e tem que ser feito de modo constante, conhecendo bem as pessoas e o lugar, para que a proposta realmente atenda à demanda. Como psicólogas, fizemos esse trabalho com uma visão ampliada e respaldada em teorias. E através do contato com o outro nos diferentes aspectos, pudemos permitir o trânsito da comunicação entre as idosas, dando a elas a oportunidade de vivenciar, aprender e elaborar conteúdos por meio das atividades. Diferente do voluntário comum, com um olhar diferente, o psicólogo usa a arte como veículo para expressão das demandas das participantes. Criar uma Oficina, colocar em prática devemos levar em conta  o individuo, pois cada um  tem sua subjetividade e individualidade. As oficinas proporcionam a reflexão e o emergir dos conflitos, traduzindo em um clima acolhedor com liberdade para todos os integrantes, favorecendo aos idosos integração, interação e aumento da auto-estima ao expor suas experiências de vida.
    Palavras Chaves: idosas, instituição, criatividade, integração, interação.

”Pais heróis e mães rainhas do lar”.
“Passamos boa parte da nossa existência cultivando estes estereótipos.
Até que um dia o pai herói começa a passar o tempo todo sentado, resmunga baixinho e puxa uns assuntos sem pé nem cabeça. A rainha do lar começa a ter dificuldade de concluir as frases e dá pra implicar com a empregada. O que papai e mamãe fizeram para caducar de uma hora para outra?
Fizeram 80 anos. Nossos pais envelheceram. Ninguém havia nos preparado para isso.
Um belo dia eles perdem o garbo, ficam mais vulneráveis e adquirem umas manias bobas.
Estão cansados de cuidar dos outros e de servir de exemplo: agora chegou a vez de eles serem cuidados e mimados por nós, nem que para isso recorram a uma chantagenzinha emocional. Têm muita quilometragem rodada e sabem tudo, e o que são sabem eles inventam.
Não fazem mais planos em longo prazo, agora dedicam-se a pequenas aventuras, como comer escondido tudo o que o médico proibiu. Estão com manchas na pele.
Ficam tristes de repente. Mas não estão caducos: caducos ficam os filhos, que relutam em aceitar o ciclo da vida.
Ë complicado aceitar que nossos heróis e rainhas já não estão no controle de situação. Estão frágeis e um pouco esquecidos, têm este direito, mas seguimos exigindo deles a energia de uma usina.
Não admitimos suas fraquezas, seu desânimo. Ficamos irritados se eles se atrapalham com o celular e ainda temos a cara-de-pau de corrigi-los quando usam expressões em desuso: calça de brim? Frege? Auto de praça?
Em vez de aceitamos com serenidade o fato de que as pessoas adotam um ritmo mais lento com o passar dos anos, simplesmente ficamos  irritados por eles terem traído nossa confiança, a confiança de que seriam indestrutíveis como os super-heróis.
Provocamos discussões inúteis e os enervam com nossa insistência para que tudo siga como sempre foi.
Essa nossa intolerância só pode ser medo.
Medo de perdê-los, e medo de perdermos a nós mesmos, medo de também deixarmos de ser lúcidos e joviais. É uma enrascada essa tal de passagem do tempo.
Nos ensinam a tirar proveito de cada etapa da vida, mas é difícil aceitar as etapas dos outros, ainda mais quando os outros são papai e mamãe, nossos alicerces, aqueles para quem sempre podíamos voltar, e que agora estão dando sinais dando sinais de que  um dia irão partir sem nós”
“Martha Medeiros”

INTRODUÇÃO

Quando tomei contato, em sala de aula, com as atividades praticadas nas Oficinas de Criatividade, voltei meus interesses para a busca de respostas e entendimento de algumas questões: sobre o sofrimento e as formas de intervenção na vida de idosos que não recebem o amparo de suas famílias. Conheci pessoas que praticam trabalho voluntário junto a idosos institucionalizados e, dessa forma, vislumbrei a possibilidade de interação em grupos determinados.
            Desenvolver um Projeto sobre a utilização de Oficinas de Criatividade foi para mim uma escolha de fundamental interesse, e estou segura de que proporcionou um campo de reflexão e análise sobre a vida de idosos institucionalizados. Por meio da exploração de formas de expressão, foi possível promover o autoconhecimento e, acima de tudo, levar as pessoas a uma compreensão na atitude com os mais diversos tipos de material, de soluções.
            Ao ser solicitada, como aluna, a escolher uma instituição para pôr em prática os conhecimentos adquiridos na teoria de Oficina de Criatividade, antecipava meus objetivos para 2004, de exercer essa prática, inicialmente, a partir dos ensinamentos obtidos e aprimorados neste curso de graduação. Seu principal objetivo foi garantir um espaço de elaboração da experiência pessoal e coletiva por meio dos recursos expressivos, e auxiliar no processo educativo, bem como no desenvolvimento pessoal.
            A finalidade desta pesquisa foi promover a integração, a interação dos idosos institucionalizados por meio da Oficina de Criatividade, possibilitando resgatar a auto-estima, dignidade e a importância desse idoso, permitindo que deles surgissem significados relevantes a partir do entendimento do mundo no qual estão inseridos.
            A velhice é a última fase do ciclo vital, delimitada por eventos de natureza múltipla, incluindo perdas significativas, afastamento social, restrições dos papéis sociais. Realidade de uma situação do Brasil, de nossa sociedade atual.
A atividade de Oficina de Criatividade junto a idosos institucionalizados, é muito importante, pois idosos residentes em asilos ou casas de repouso geralmente sentem-se frágeis e abandonados por seus familiares, que devido aos seus afazeres pessoais e de suas famílias nucleares, nem sempre podem vir visitá-los ou levá-los para suas casas.
O lugar da Oficina de Criatividade neste tipo de instituição é o de fazer com que os idosos, através do desenvolvimento de atividades artísticas e artesanais, liberem a sua criatividade e, a partir dela, perceber a realidade do mundo que os cerca criando condições pessoais de desenvolvimento, através do aumento da auto-estima e da percepção de sua dignidade, interagindo com o mundo que os cerca de forma produtiva e agradável para a sua sobrevivência.
A criatividade está sempre presente, ela parece bloqueada por muitas vezes, porém, não está bloqueada, somente um pouco inibida por fatores próprios da idade, como as dificuldades de locomoção, doenças degenerativas, os problemas de memória e esquecimento, e as mais diversas dificuldades que o desgaste físico apresenta. Mas, no momento em que lhes oferecemos a oportunidade de fazer aflorar novamente o processo criativo, as idosas passaram a responder prontamente as atividades, claro que existem fatores inibidores para algumas, mas a maioria todas mostraram-se muito criativas.
A aplicação de Oficinas de Criatividade junto às idosas, nos proporcionou uma ampliação em nosso quadro de visão sobre a atuação profissional junto à pessoas que têm sua auto-estima baixa por estarem ao final de suas vidas e principalmente por estarem alijadas do mundo.

OBJETIVOS
O objetivo deste projeto de pesquisa foi o de colocar em prática os conhecimentos adquiridos sobre Oficina de Criatividade, implantando algumas das atividades aprendidas em sala de aula e outras semelhantes, permitindo ao idoso sua integração, interação, podendo resignificar os valores nesta fase de suas vidas.


MÉTODO
1. Sujeitos:
A pesquisa foi realizada com a totalidade dos interessados residentes na instituição, todos do sexo feminino, com idade variável entre 60 e 90 anos. A instituição onde realizei minha pesquisa foi a Associação Madre Teodora dos Idosos, situada à rua Yoshimura Minamoto, 56, Jardim Brasília, Bairro de Santo Amaro, São Paulo. A Associação foi fundada em 1989 pela Irmã Natalina Cerchiiaro, com a finalidade de acolher idosos encontrados nas ruas. Com a ajuda da comunidade local, a instituição cresceu e abriga hoje 52 idosos. A manutenção da associação baseia-se em doações, sendo que é feita em grande parte pela Uni-Lever, e completada pela ajuda de voluntários, bazares e bingos realizados mensalmente. Alguns idosos colaboram com o valor de suas aposentadorias.
A Associação possui onze voluntários que fazem os serviços necessários para a manutenção dos idosos, sendo duas enfermeiras no período diurno e uma no noturno, uma cozinheira, uma lavadeira, quatro funcionárias de serviços gerais de limpeza e duas pagens para os idosos, pois a maioria destes necessita de ajuda para se locomover e alimentar-se.
Os 52 internos estão distribuídos em 27 homens e 25 mulheres, divididos em duas alas, sendo que no andar térreo fica a ala masculina e no superior a feminina. Cada ala possui sete quartos que abrigam entre quatro e sete pessoas, um banheiro, um refeitório, uma sala de televisão. De uso comum existem a cozinha, lavanderia e o roupeiro.
Os idosos raramente saem, pois muitos necessitam de cadeiras de rodas, o que lhes dificulta a locomoção para outros lugares, fora da instituição. Saem somente por solicitação familiar ou para atendimento médico. O atendimento é feito mensalmente pelo INSS, e em casos de necessidade pelo hospital ou pelo posto de saúde localizado no bairro.
Para o projeto de pesquisa proposto participarão somente as idosas residentes na entidade, em número de 25, variando este número a cada atividade, conforme a disposição e o interesse de participação.

 

2. Procedimentos:
Realizamos entrevistas de avaliação de demanda, observações e atendimento individual e grupal, no período de dois meses. As atividades da Oficina iniciaram-se em agosto e foram realizados oito encontros, uma vez por semana, com duas horas de duração. Seu término, conforme o previsto, foi em outubro de 2003.
As atividades foram registradas, fotografadas e gravadas, conforme autorização dos participantes. A articulação de cada atividade levou sempre em consideração o ritmo e o interesse das idosas.
O embasamento teórico das atividades e o conhecimento da realidade de idosos institucionalizados foi elaborado através de pesquisa bibliográfica. A instituição colocou à nossa disposição para a realização das atividades a sala de televisão e o quiosque, localizados na área de lazer.
Os procedimentos utilizados na Oficina de Criatividade foram a expressão artística através de poesias, músicas e filmes escolhidos conforme o interesse dos participantes, de acordo com a observação realizada junto a estas idosas. Estas atividades foram variáveis de acordo com o interesse das participantes, como: quais as poesias, músicas e filmes utilizados.
Participaram na primeira atividade 20 idosas e uma voluntária. Dispusemos as idosas em circulo, colocamos crachás de identificação em todas e observamos a interação. Foram distribuídos espelhos para que entrassem em contato consigo mesmas. Explicamos a atividade de ouvir músicas escolhidas por elas e que depois cada um poderia pegar um objeto que identificasse com sua história. Ficou a critério dos participantes dar depoimento ou não.
Observamos que ao escutarem a música as idosas voltavam ao seu interior, lembranças talvez, que eram mostradas através dos gestos, olhares, sentimentos, emoções que iam brotando. Assim que terminaram os depoimentos colocamos uma música para relaxamento durante cinco minutos.
Objetivo: organizar em círculo para que as idosas tivessem a visão das demais e da roda toda. O segundo objetivo foi colocá-las em contato com a música de sua época, para que pudessem reavivar o seu sentido existencial. Foram utilizados para essa atividade dois gravadores, uma máquina fotográfica, um rádio com CD, vários discos. Os objetos utilizados durante a atividade foram: pulseira, relógio, rádio, despertador, lenço, sombrinha, batom, porta-retrato etc. Esses objetos foram colocados em cima de uma mesa para melhor visualização dos participantes.
Enquanto que na segunda atividade de Oficina participaram também 20 idosas. Nos deparamos com algo inesperado, trouxemos um filme, mas o aparelho de vídeo estava quebrado. Resolvemos colocar o CD Aves da Amazônia, com o objetivo de trabalhar com a reativação da memória, audição, concentração. Apesar de criarmos uma atividade sem uma pesquisa anterior, fizemos com que elas trabalhassem a memória e a concentração. Após a realização da atividade registramos os depoimentos.
Nesta terceira atividade participaram 17 idosas. Neste atendimento foi proposta a atividade de assistiriam ao filme escolhido anteriormente pelas idosas. Solicitamos ao grupo que assistisse ao filme e tentasse relembrar alguns momentos de sua vida. Em seguida conversamos sobre o tema e o que gostaram, e que recordações lhe havia transmitido o filme. O intuito foi o de resgatar a identidade social e cultural.
Na quarta atividade participaram 20 idosas. Uma das idosas apresentou uma poesia de Machado de Assis. Nós apresentamos a poesia “A Casa”, de Vinícius de Morais. Em seguida, foi solicitada que completassem a frase, assim que parasse leitura. Por exemplo: Era uma casa muito engraçada, Não tinha...Não tinha... E assim sucessivamente.
No final da atividade as idosas escolheram alguns objetos espalhados sobre a mesa no centro da sala, com o objetivo de identificar o objeto com seu modo de ser. Foi perguntado qual objeto ela colocaria dentro da casa. O objetivo foi o de desenvolver no grupo a interação, o respeito e o carinho pelo outro, como também trabalhar a memorização, percepção, audição e suas expressões, verbais ou não.
Participaram 16 idosas na quinta atividade. A atividade proposta foi: “Expressão de Amizade”. Organizamos os participantes para formar um círculo, em seguida, a pessoa dirá a quem estiver ao seu lado direito: “Amo a minha amiga... Porque é...”. O seguinte deve dizer: “Amo minha amiga... porque é...” (ou qualquer adjetivo). Após todas falarem foi colocada uma música de Milton Nascimento, Canção da América sobre o tema “amigo”. Após ouvirem a música, cada participante escreveu ou falar uma frase ou palavra.
O objetivo foi o de superar o impasse que cada um tem quanto à sua capacidade emocional, trabalhando ao mesmo tempo o ser e o material facilitando a redescoberta de suas totalidades perdidas.
Neste 6º encontro nossa proposta foi trabalhar “Aromas”. Participaram 15 idosas, do início ao fim; no meio da atividade chegaram mais duas. Com o objetivo de através do sentido do olfativo – estimular através de aromas diversos – resgatar emoções e fazer com que viessem lembranças, através do cheiro. Foram utilizados os aromas de laranjeira, jasmim, erva-doce, tutti-fruti. Cada idosa, depois que sentir o cheiro de cada uma das essências, escolheu uma delas e fiz o seu próprio perfume.
Esse contato facilita uma fluidez mental que aroma propicia, atraindo o espírito criativo e permitindo aprofundar-se no sentido da vida, deixando fluir as ansiedades, os bloqueios.
Nesta penúltima atividade participaram 15 idosas. Proposta: “Volta ao Passado, um dia Especial”. A escolha dessa atividade deu-se devido a pluralidade e sentido da interação e integração das idosas com que estamos trabalhando, dando sentido a sua vida passada, revivendo no aqui e agora suas experiências, suas recordações e lembranças.
Foi solicitado que as idosas contassem para nós e suas colegas receitas culinárias que faziam para seus filhos, netos, ou que suas mães e avós faziam para elas. O objetivo foi o de resgatar a memória e as lembranças das gerações passadas.
Depois dos seus depoimentos, foram discutidas as receitas que gostariam de experimentar, no próximo encontro pois seria feito um almoço com as receitas escolhidas por elas. Foram gravadas e anotadas algumas receitas que as idosas recordaram e falaram.
Por meio dessa atividade puderam elevar a auto-estima resgatando na memória essa peculiaridade especial da aptidão do sabor, do experimentar, do inventar, surgindo novas receitas que poderão ser acrescentadas no cardápio. Resgatando o potencial criativo, propiciando o desenvolvimento e a capacidade adaptativa ou inovadora, dando forma à potencialidade inibida, criando elos com a vida.
Nesta última atividade participaram 19 idosas. Fomos convidadas a almoçar com elas, as receitas da atividade da semana anterior Ao mesmo tempo em que saboreavam a comida, falavam dela, do gosto, dos sabores.
A nossa proposta nesta Oficina foi contar a história de vida de cada idosa, por meio de dados obtidos durante nossa observação na instituição. Foram coletados durante esse dois meses de observação: dados de sua identidade, data de nascimento e algumas características.
Ao ser relatada a historia, a idosa poderia perceber que era a sua própria história. Se a idosa identificasse a sua história, seria colhido seu depoimento sobre como foi que descobriu, o que sentiu, lembrou outras coisas que surgiram no momento.
No início foi contada uma história, feita por nós, sobre o ciclo da vida e de como encarar a velhice com naturalidade. Depois foi relatada a história. Na seqüência, foi escolhido um poema do livro: “Cada pessoa tem um anjo” de Anselm Grüm. Ficou em aberto no final da atividade para que as idosas pudessem falar, ou dar seus depoimentos.

Referencial Teórico
A proposta deste trabalho foi retratar a situação do idoso em nossa sociedade, especificamente no Brasil, ressaltando a importância do respeito pelo idoso como alguém que tem direitos e deveres como qualquer ser humano, pois são a nossa história, e nada existe sem uma história anterior.
Apresentamos aqui vários aspectos relacionados com a questão do envelhecimento e do ser idoso no Brasil, trataremos de conceitos básicos sobre quem é o idoso, o que significa envelhecimento e quais suas conseqüências e, quem é o idoso brasileiro e seus direitos.
            Desde a Antigüidade, com freqüência, o respeito e a veneração aos mais idosos se davam em nome dos deuses. O respeito se transmitia pela tradição e com o desenvolvimento da sociedade o direito do idoso passou a ser estabelecido. No Código de Hamurabi surgiram as primeiras distinções jurídicas entre a infância e a idade adulta, onde se encontram considerações sobre direitos dos idosos.
            Hieróglifos encontrados no Egito mostram a preocupação com a assistência às pessoas idosas. A Bíblia determina que “não se levantem as mãos contra os pais” e que a obediência e assistência sejam cotidianas.
            Na Grécia Antiga, Hipócrates foi o primeiro pensador a estabelecer um paralelo entre as etapas da vida e as quatro estações do ano, comparando a velhice com o inverno. Posteriormente, Cícero cria uma teoria de envelhecimento, onde denomina a velhice como “terceira idade”, sucedendo as fases da infância e da maturidade.
            O Cristianismo baseado nos conceitos bíblicos, trouxe ao Ocidente o preceito da maior compreensão devida aos anciãos. O imperador romano Flávio Justiniano mandou elaborar o Corpo de Direito Civil ou Institutas, determinando que os idosos deveriam ser respeitados e ouvidos na família e na comunidade.
            A Igreja Católica ajustando a Bíblia ao Direito Romano organizou o Código de Direito Canônico, incorporando preceitos de respeito ao envelhecimento (Fernandes, 1997, p.32).
            No século XV, surgiram na Holanda as primeiras instituições oficiais para acolher idosos carentes ou enfermos, organizados por empregadores e paróquias. No século XVI a Irlanda adotou linhas parecidas, determinando que os velhos desamparados e carentes fossem recolhidos para receber atendimento.  No século XIX o Código Napoleônico contemplou normas de amparo aos veteranos de guerra e idosos.
            A Inglaterra foi o primeiro país a formalizar programas de cuidados especiais em função do envelhecimento, após a Segunda Guerra Mundial. A Argentina em 1948, solicitou à ONU atenção para o problema crescente da população idosa, fato que refletiu no texto da Declaração Universal dos Direito do Homem de 1948. Em 1982 a ONU realizou a Assembléia Mundial sobre o Envelhecimento e o Ano Internacional do Idoso, quando foi elaborado o roteiro do Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento.
            Desde os primórdios, escritores e pintores sempre tiveram em suas obras preocupação com a velhice, seja enaltecendo, ridicularizando ou ainda identificando-a com um fantasma (Beauvoir, 1976, pp.18-19). Um autor que deu muito realce à velhice foi Victor Hugo que em sua obra refere-se freqüentemente ao homem criança, ao homem adulto e ao homem velho.
            O envelhecimento (Néri, 2001, p. 27), compreende os processos de transformação do organismo que ocorrem após a maturação sexual que implicam a diminuição da probabilidade da sobrevivência.
“Esses processos são de natureza internacional, iniciam-se em diferentes épocas e ritmos e acarretam resultados distintos para as diversas partes e funções dos organismos. Há um limite para a longevidade estabelecido por um programa genético que permite ao organismo suportar uma determinada quantidade de mutações. Esgotando esse limite o organismo perece”.
            Idosos são populações ou indivíduos que podem ser caracterizados pela duração do seu ciclo vital. Segundo as convenções sociodemográficas atuais (idem, 2001, p.45), idosos são pessoas com mais de sessenta anos, nos paises em desenvolvimento, e de mais de sessenta e cinco, nos países desenvolvidos. Gênero, classe social, saúde, educação, fatores de personalidade, história passada e contexto socio-histórico são importantes elementos que se mesclam com a idade cronológica para determinar as diferenças entre os idosos.
            O envelhecimento para Néri (2001, p. 46), é o processo de mudanças genéticas para a espécie e para cada indivíduo, que se traduz na diminuição da plasticidade comportamental, em aumento da vulnerabilidade, da acumulação de perdas evolutivas e no aumento da probabilidade de morte.
            A velhice é a última fase do ciclo vital e é delimitado por eventos de natureza múltipla, incluindo perdas psicomotoras, afastamento social, restrições dos papéis sociais cognitivas.
            Uma importante restrição social que os idosos sofre é a do trabalho, visto que este é uns esforços humanos físico ou intelectuais, aplicados à produção e obtenção de riqueza. O trabalho é a atividade mediante a qual o homem projeta ao seu redor um meio humano e ultrapassa o circunstancial da vida. Por isso o trabalho é a expressão essencial do homem (Ander-Egg, 1974, p.259).
            O idoso já não é, na maior parte dos casos considerada produtivo, e já não tem mais necessidade de obter riqueza, visto que seu futuro é considerado pequeno. Porém, observa-se que para fins de aposentadoria a idade considerada como já debilitada para o trabalho é de 60 anos para as mulheres e 65 anos para os homens.
            Um dos momentos da improdutividade humana ocorre com a velhice Beauvoir (1976, p. 13), entende como:
“(...) um fenômeno biológico com conseqüências psicológicas que se apresentam através de determinadas condutas, consideradas típicas da idade avançada. Modifica a relação do homem no tempo e, portanto, seu relacionamento com o mundo e com sua própria história. Por outro lado, o homem nunca vive em um estado natural: um estatuto lhe é imposto, também na velhice, pela sociedade a que pertence”.
            O velho não se retira da atividade econômica, mas é impelido a isto, embora tenho necessidade de melhorar seus rendimentos. Paul Singer (1976, p. 81), afirma que o que acontece então neste caso, é o chamado “desemprego oculto”, pois não aparece nas estatísticas. A essência reside no fato de que o contingente de mão-de-obra jovem, pode facilmente substituir o trabalho feminino, a partir dos 30 anos, e a mão-de-obra masculina, a partir dos 50 anos, atualmente até mais cedo.
Em contrapartida o idoso fora dos meios de produção também, não tem direito ao lazer, pois, na concepção de Gist e Fava (Parker, 1978, p.76), este é o tempo em que o indivíduo dispõe livre de trabalho e de outros deveres, e pode ser utilizado para fins de repouso, divertimento, atividades sociais ou aprimoramento pessoal.
Ora, com os baixos rendimentos pagos pelas aposentadorias e pela exclusão do idoso da vida social, o repouso pode estar garantido, porém, o divertimento só acontece se houver alguma sobra financeira ou se a família puder financiar, quanto ao aprimoramento pessoal, o idoso é estigmatizado para sentir-se inútil e por isso não tem necessidade de procurar novos conhecimentos ou formas de desenvolvimento, não que seja incapaz ou não necessite disto, mas porque a sociedade trata o idoso como alguém no fim da vida e que dela nada pode esperar.
Os idosos necessitam de contato direto e permanente para considerar alguém como sua família. Os que escolheram o grupo de convivência ou algum amigo especial estão distantes da família por algum motivo e adotaram outras pessoas com as quais realmente mantêm relações familiares mais amistosas e gratificantes, se comparadas com os que vivem com a família real. O grupo de convivência e os amigos dão ao idoso a solidariedade esperada em todos os momentos da vida (Canôas, 1985, p. 39).
O ideal para o idoso é estar completamente independente de sua família do ponto de vista econômico, pois isso significa que tem meios para viver dignamente. Depender economicamente da família leva o idoso ao retraimento, pois a família vai auxiliando com pequenas quantias em dinheiro quando se faz necessário. Desta maneira, muitos idosos só apresentam sua necessidade monetária quando se trata de problemas de saúde ou moradia, tendo até vergonha de dizer que desejam comer melhor ou fazer uma pequena viagem com seus amigos. Ficam assim na dependência da sensibilidade dos filhos.
De acordo com Canôas (1985, p. 45), os idosos que ainda têm o companheiro vivo são os que se sentem menos problemáticos: ajudam-se mutuamente, trabalham juntos em casa, tem companhia para sair, alimentam-se melhor, tem maior troca de afetividade. Alguns relatam que está vivendo a época de maior harmonia no casamento.
O grupo familiar para o idoso, quando possui filhos e netos é imaginário, ideal, onde todos podem estar juntos como em férias permanentes, por isso o idoso tem sempre dificuldade de aceitar que seus filhos necessitam trabalhar para a manutenção de suas vidas e que seus netos necessitam de escola e lazer, assim, acreditam estar sempre sendo relegados a um segundo plano, não recebendo a atenção e o carinho que desejam.
De maneira geral a sociedade fecha os olhos para os abusos aplicados contra os idosos. Os adultos segundo Beauvoir (1990, p. 269), atualmente interessam-se pelo idoso como um objeto de exploração. Multiplicam-se clínicas e casas de repouso, onde idosos que podem pagar o fazem a troco de conforto e cuidados que freqüentemente deixam a desejar.
As instituições de amparo à velhice propõem-se a cuidar das pessoas idosas e, para tanto, organizam-se em função do que um velho necessita: alimentação, higiene, abrigo, cuidados médicos e distração para passar o tempo. Prover desses recursos em grupo de pessoas não é pequena tarefa. Desta forma, encontram-se nestas instituições, grande preocupação com relação à limpeza, às compras, à arrecadação de fundos, ao pedido de ajuda à comunidade, enfim, preocupações de cunho administrativo.
O velho, de acordo com Goffman (1974, p. 15), colocado em instituições, é posto a vegetar, vai perdendo sua originalidade, sua vontade, sua capacidade de projetar o futuro, seu raciocínio, sua memória, estando sempre à parte do processo da vida. No cansaço e no desgaste do dia-a-dia, a vida vai passando, os filhos, quando existem, já estão enfrentando os seus próprios problemas, o velho fica só, sem reservas, sem saúde, sem planos, precisando somente de um lugar para comer, higienizar-se e dormir. Neste momento passam a institucionalizar-se, e então sua vida torna-se cada vez mais sem sentido, passam desta forma ao estado de isolamento.
Sem dúvida a religião assume na velhice uma nova dimensão. Para alguns, ela se reafirma; para outros, ela se instala na busca de conforto para problemas aflitivos. Canôas em sua obra A Condição Humana do Velho (1985, p. 59), entende que:


“Os problemas da vida são muitos, as soluções são escassas, às vezes inatingíveis, o homem procura suas saídas. Na velhice por já ter vivido mais, é maior o número de desencantos, é maior o número de soluções inatingíveis, por isso aumenta a necessidade de alguma coisa em que se possa acreditar, embora seja algo mágico”.

O desenvolvimento das ciências e dos meios vem favorecendo a ampliação da duração da vida das pessoas. A alimentação, a higiene, os recursos médicos e farmacológicos, e a facilitação de todo o tipo de condições de existência, tais como a proteção do cidadão, o aperfeiçoamento dos instrumentos e das técnicas e a segurança de trabalho, permitem existência mais longa e saudável.
Nos países em desenvolvimento o envelhecimento da população, constituído pelo aumento da média de vida e o decréscimo de nascimentos, tem se verificado de forma especialmente rápida (Séguin, 2001, p. 56).
O envelhecimento populacional é um fenômeno internacional, encontrado em quase todos os países, independentemente do desenvolvimento econômico. Alguns entendem que ele causa uma sobrecarga no orçamento previdenciário, posto que aumenta o número de pessoas que são pensionistas.
O envelhecimento desenrola-se desde o início da vida e prossegue ao longo da existência. Há fases de latência, nas quais é praticamente imperceptível, e outras de maior aceleração e evidência.
A ONU estabeleceu em convenção de que as pessoas além dos sessenta anos sejam consideradas velhas. Mas na realidade, cada indivíduo tem seu ritmo próprio de senência. As indicações de idade só podem ser aproximadas, há pessoas que antes dos sessenta anos estão velhas e abatidas. Outras chegam bem adiante ainda vigorosas. Fatores de ordem hereditária e do ambiente determinam o ritmo do envelhecimento de cada um.

“Não se deve confundir senência com senilidade. A senência ou a velhice podem ser saudáveis, seja como processo, seja como estado pessoal. Alguém pode ser bastante velho, um ancião, e estar com muita saúde. A senilidade, ao contrário, é o estado doentio e acidental de grande desgaste e disfunção do organismo e do psiquismo, produzidos por fatores degenerativos, tais como a esclerose”.(Lapenta, 1996, p. 17).

Até os anos 70 (Néri, 2001, p. 29), a psicologia e a gerontologia consideravam o desenvolvimento e o envelhecimento como processos opostos e trajetórias inconciliáveis. Hoje, um conceito aceito na psicologia da vida adulta e da velhice, é que tanto o desenvolvimento quanto o envelhecimento são processos adaptativos. Ambos estão presentes durante todo o curso da vida.
A memória para o idoso vem carregada, além de todas as lembranças do passado, familiar e do universos de pessoas com que se relacionaram, das lembranças criadas na própria mente, isto é de lembranças que foram impregnadas de mitos e que transformam a realidade em outra realidade, a sentida e imaginada. Segundo Bosi (2003, p. 60), o idoso ao lembrar do passado não está parado descansando ou deixando seu imaginário ao sonho, “... ele está se ocupando conscientemente e atentamente do próprio passado, da substância de sua vida”.

Para Willian Stern (Bosi, 2003, p. 66), a unidade pessoal conserva intacta as imagens do passado, mas pode alterá-las conforme as condições concretas do seu desenvolvimento. A memória poderá ser conservação ou elaboração do passado, pois o seu lugar na vida do homem está entre o instinto que é sempre repetitivo e a inteligência que é inovadora.

“A função da lembrança é conservar o passado do indivíduo na forma que é mais apropriada a ele. O material indiferente é descartado, o desagradável, alterado, o pouco claro ou confuso simplifica-se por uma delimitação nítida, o trivial é elevado a hierarquia do insólito, e no fim formou-se um quadro total, novo, sem o menor desejo consciente de falsificá-lo”.

Além de ser um destino dos seres vivos, a velhice é uma categoria social, pois cada sociedade vive de forma diferente o desgaste do ser humano. Atualmente a sociedade rejeita o velho, não querendo continuar a sua obra, pois ele já não é mais produtor e reprodutor. Somente o velho detentor de propriedades é um pouco acolhido na sociedade, pois suas propriedades o defendem de sua desvalorização como pessoa.
As características da relação dos adultos com os velhos, segundo Bosi (2003, p. 78), é a falta de reciprocidade que se pode traduzir numa tolerância sem o calor da sinceridade. Não se discute com o velho e nem se confrontam opiniões com as dele, negando-lhe a oportunidade de desenvolver aquilo que só se permite aos amigos: a alteridade, o enfrentamento e mesmo o conflito. Esta relação do adulto com o velho, de desviar-se do atrito é pobre e simplista, levando o idoso ao banimento e a discriminação.
A função da memória é o conhecimento do passado que se organiza, ordena o tempo, localiza cronologicamente. O passado revelado desse modo é a fonte do presente.
Hoje existem mais de 600 milhões de pessoas com mais de 60 anos; e, segundo as previsões, em 2050 será atingida uma cifra de 2 bilhões de seres humanos. Calcula-se que em 2030, 71% (setenta e um por cento) desta população viverá nos países mais pobres (Conselho Pontifício para os Leigos, 2003, p. 13):
Face à marginalização dos idosos na sociedade atual e às perspectivas do futuro, impõe-se a necessidade de criar uma sociedade que inclua todas as idades e tenha como base a igualdade entre as gerações, na qual se dê lugar ao idoso, sobretudo a mulher idosa e aos mais pobres e desprotegidos.

 “Facilitar a solidariedade entre as gerações; incluir o idoso na tomada de decisões tanto em nível familiar com social; permitir o acesso do idoso aos cuidados sociais básicos, incluindo os tratamentos médicos, sobretudo para quem vive nas zonas rurais; dar assistência especialmente aos idosos infectados de HIV, ou aqueles que tem sob a sua responsabilidade órfãos infectados por essa doença; assistir os idosos com enfermidades mentais, Mal de Alzheimer ou semelhantes; fortalecer os esforços legais existentes para eliminar qualquer forma de abusos; proteger a sua dignidade e sua vida até seu fim natural, promovendo os cuidados paliativos; estimular o idoso a manter sua auto-suficiência e mobilidade até quando lhe for possível; promover uma cultura social na qual se dê espaço ao idoso e se eduque a sociedade, tanto nos níveis elementares como nos profissionais; estimular o idoso a compreender a evolução da sociedade atual e estimulá-lo a não se sentir estranho nela com pessimismo e”. rejeição; educar os idosos para o uso dos progressos tecnológicos elementares no campo da comunicação e informação; promover uma educação entre as gerações, de modo que os idosos ensinem os jovens e estes aos idosos, num intercâmbio recíproco ““.

Durante as duas últimas décadas, a Organização das Nações Unidas fez-se promotora de numerosas iniciativas orientadas para compreender e encontrar soluções para o problema que apresenta o aumento crescente do número de pessoas que iniciaram a fase da terceira idade e para a necessidade de enfrentar responsavelmente o desafio de construir uma sociedade para todas as idades.
O problema do envelhecimento diz respeito a toda a humanidade e deve ser enfrentado de maneira global e, mais em particular, integrada na complexa problemática do desenvolvimento.
Para garantir que uma sociedade que está a envelhecer, esteja consolidando a segurança social das pessoas idosas e sua qualidade de vida é preciso não se deixar guiar principalmente por critérios econômicos, mas inspirar-se melhor nos sólidos princípios morais, que considerem o idoso na sua dignidade de pessoa, não deixando-o marginalizado e relegado para uma solidão comparável a uma verdadeira morte social através de políticas orientadas para uma distribuição eqüitativa dos recursos, de forma que todos os cidadãos, e também os idosos possam se beneficiar deles.
Esta solidariedade deve ser realizada no âmbito de cada nação e entre os povos, através de um compromisso que faça com que se tenha em consideração as profundas desigualdades econômicas e sociais entre o norte e o sul do planeta.
João Paulo II (Conselho Pontifício para os Leigos, 2003, p. 39), considera importante que as políticas se completem com programas formativos destinados a educar as pessoas para a velhice durante toda a sua existência, tornando-as capazes de se adaptarem às mudanças, cada vez mais rápidas, no modo de viver e de trabalhar. Uma formação centrada não só no fazer, mas no ser, atenta aos valores que promovam o apreciar da vida em todas as suas fases e na aceitação tanto das possibilidades como dos limites que a encerra.
O Brasil propaga o ilusório de ser um país jovem e não se prepara para a realidade de que existiam em 1999, 15 milhões de sexagenários, um em cada dezesseis habitantes (Oliveira, 1999, p. 129). A situação do idoso na famílias e no seio da sociedade é muito delicada. Ainda segundo Oliveira (p. 17), “a sociedade de consumo, com seu espírito de produtividade, rendimento e eficiência, considera o idoso um peso”, isto é, alguém que onera a sociedade e não lhe fornece benefícios econômicos de forma direta.
O idoso é marginalizado, delicado também é o problema dos aposentados que não ganham o suficiente para uma vida digna. O sistema de aposentadoria adotado no Brasil ainda reforça muitas injustiças e desigualdades sociais, não possibilitando ao aposentado desfrutar uma vida com qualidade.
A grande maioria das aposentadorias, no Brasil, não dá aos aposentados a possibilidade de uma vida digna. Junta-se a isso a péssima qualidade oferecida pela rede pública de atendimento à população.
Um dado relevante é que, apesar da veracidade dessas afirmações, na crise que o Brasil atravessa, foram as parcas aposentadorias que apoiaram muitas famílias quando o desemprego chegou, na década de 1990 e perdura até os dias de hoje.
O aumento da longevidade exige um novo sistema previdenciário, para que não se culpem os velhos pelos déficit da Previdência no Brasil. (CNBB, 2003, p. 58).
O sistema neoliberal, adotado no Brasil a partir de 1993, elimina do mercado de trabalho os menos capazes e os que têm mais tempo de trabalho, pois são mais dispendiosos. Assim, não é o conflito de gerações que exclui os idosos, mas a própria dinâmica do sistema socioeconômico vigente. Essa exclusão é ainda maior quando se trata de idosos, que não têm significado para o sistema.
O Brasil passa atualmente por uma séria crise política e ética. Porém, há muita tolerância popular para com esta situação de crise moral e aceita-se a vitória na vida mesmo com atos escusos. Tudo isso vem a público e, desse modo, se torna quase impossível uma educação para compromissos morais.
O país se encontra hoje inserido na economia globalizada, justificada pela ideologia do neoliberalismo, que é definido como um sistema que, apoiado numa concepção economicista do homem, considera o lucro e as leis do mercado como parâmetros absolutos em detrimento da dignidade e do respeito da pessoa e do povo.
A política adotada no Brasil trouxe mais dependência do exterior, chegando ao domínio da economia sobre a vida social e a diminuição da participação política, a população acredita que os políticos não são promotores eficazes do bem comum, mas instrumentos passivos da vontade de grandes empresas ou interesses corporativos.
As grandes mudanças culturais em curso incidem nas formas de fazer, de associação e de conferir sentido para a vida. Os avanços tecnológicos ganham cada vez mais velocidade, em muitas direções abrindo novas formas de relacionamentos e interagindo drasticamente com o mundo de valores pelos quais nos pautamos. Esses fatores criam um novo ambiente, dentro do qual as famílias e as pessoas estão condicionadas a se organizarem, e um novo clima para as formas de pensar.
O processo de mudança cultural que deu origem à modernidade perdura há quatro ou cinco séculos nas sociedades ocidentais. Esse processo trouxe consigo algumas características fundamentais, presentes ainda hoje na realidade brasileira. Com freqüência, a busca de autonomia se degenera em egoísmo e auto-suficiência, que excluem o outro, rompendo os laços de solidariedade e caminhando para novas formas de escravidão. (CNBB/CF, 2003, p. 91).
A sociedade moderna, voltada de forma obsessiva para a produção e o domínio da natureza, valoriza antes de tudo a economia e o poder político necessário para regulá-la e protegê-la. A separação entre economia, ética e política manifesta-se no enorme poder e na riqueza acumulada por poucos e na condição de penúria da maioria da humanidade.
A modernidade valorizou tanto a razão que acabou por esquecer dos sentimentos e das emoções, se fechou no mais empobrecedor individualismo, colocando pessoas contra pessoas, gerando injustiças sociais, lutas, revoluções e guerras.
Embora a velhice tenha merecido a atenção dos poderes públicos, no Brasil as políticas sociais e o interesse do Estado nessa questão caminham a passos lentos, e só recentemente certas áreas das ciências sociais despertaram para o estudo dessa temática.
A sociologia do envelhecimento constituiu-se como campo específico de investigação a partir do surgimento de um novo fenômeno: o rápido aumento da população de mais de 60 anos (Peixoto, 1998, p. 71).

“O que tornou a velhice um problema social foram sobretudo as conseqüências econômicas, que afetaram as estruturas financeiras das empresas – e posteriormente do Estado, com o advento das aposentadorias, - quanto as estruturas familiares, que até então arcavam com os custos de seus velhos, incapacitados para cuidar de si mesmos”.

A representação social da pessoa envelhecida conheceu assim, uma série de modificações ao longo do tempo, uma vez que as mudanças sociais reclamavam políticas sociais para a velhice, que pressionaram a criação de categorias classificatórias adaptadas a nova condição moral, assim como a construção ética do velho.
A busca pela definição de quem é o idoso, revela-se de vital importância, pois disto depende saber qual o tratamento jurídico que ele deve receber: de proteção ou restrição de direitos. No Brasil, a abordagem jurídica do velho tradicionalmente foi mais voltada para aspectos previdenciários ou dispositivos do Código Civil com o intuito de proteção, que na realidade traduzia uma restrição de direitos. É recente a preocupação legislativa em proteger o idoso, posto ter sido assunto sempre relegado a segundo plano. (Séguin, 1999, p. 7).
O reconhecimento dos direitos dos cidadãos quanto envelhecem é um fato recente no Brasil. O assunto foi tratado pela primeira vez em 1976 no Seminário Nacional de Estratégias de Políticas para o Idoso, realizado em Brasília. Segundo Fernandes (1997, p. 18), a Lei n. º 8.842/94 determina que a Política Nacional do Idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.
A lei considera idosa a pessoa maior de sessenta anos de idade, atualmente a nova lei previdenciária passa a idade mínima para pedido de aposentadoria para sessenta e cinco anos Para a ONU, sessenta anos é um índice satisfatório, que atende às condições dos países em desenvolvimento.
O artigo 3º inciso I da Lei 8.842/94 determina que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos de cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem estar e o direito à vida. Entende a lei que o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos, asseverando que o idoso não deve sofrer nenhuma espécie de discriminação.
O Brasil é signatário do Plano de Ação Internacional de Viena sobre o Envelhecimento, documento que reivindica melhores condições de vida para a população idosa. Nestas condições o Brasil garante através da lei:

  1. Tratamento eqüitativo, através de reconhecimento de direitos pela contribuição social, econômica e cultural do indivíduo idoso em sua sociedade ao longo de sua vida.

  2. Direito à igualdade, por meio de processos que combatam todas as fomos de discriminação.

  3. Direito à autonomia, estimulando a participação social e familiar, enquanto possuir lucidez, indicando opções e compartilhando dos estudos, propostas e exame de sugestões que digam respeito à sua vida cotidiana.

  4. Direito à dignidade que inclui o respeito à sua imagem, assegurando-lhe consideração nos múltiplos aspectos que garantam satisfação de viver a velhice.

Em toda a evolução histórica da humanidade o homem se encanta com o ideal de erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades sociais. A justiça, social, neste interesse, passou a ser o padrão de comportamento, dando expressão de igualdade às relações humanas. Este padrão é limitativo do poder do Estado, que passou a agir com a imposição de mecanismos redutores das desigualdades. (Biagi, 2002, p. 423).
O homem desde os primórdios vê com clareza a sua necessidade de viver em sociedade, de organizar-se em Estados, porque desde o início do desenvolvimento humano logo descobriu-se que seus objetivos não seriam atingidos sem a união de esforços com seus semelhantes. Passou o homem a ser solidário com os demais membros de seu grupo social, em uma solidariedade que não é a da simples ordem natural, mas que necessariamente deve estar albergada pela ordem social.
A sociedade cria mecanismos de proteção social, com o objetivo de reduzir desigualdades, justificada pela incerteza econômica, perda da saúde e incapacidade para o trabalho. Para sair destas fatalidades o homem cria instrumentos que proporcionam proteção contra as necessidades sociais. Assim, que um dos instrumentos de proteção social, dentro do Direito Previdenciário brasileiro, é a aposentadoria por idade (Biagi, 2002, p. 423), visando garantir o necessário descanso na velhice, com condições econômicas adequadas a sobrevivência. Porém, todos sabem da sua ineficiência, baseada em baixos retorno do que foi contribuído durante toda uma vida produtiva.
A Lei n. º 8.842/94 instituiu a Política Nacional do Idoso, com objetivo de assegurar direitos sociais criando condições para promover a autonomia, integração e participação efetiva do idoso na sociedade. Esta política estabelece os seguintes princípios:

  1. O velho tem todos os direitos da cidadania, devendo ser garantida, sem discriminação, sua participação na comunidade, à defesa da dignidade, do bem-estar e do direito à vida.

  2. É direito de todos o acesso à informação sobre o processo de envelhecimento; o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem efetivadas através dessa política.

  3. A minimização das diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil.

Apelando para o respeito da dignidade e dos direitos fundamentais da pessoa anciã, e na convicção de que os anciãos ainda têm muito a dizer e ainda podem dar muito à vida da sociedade, a questão deve ser abordada com vivo sentido da responsabilidade por parte de todos: indivíduos, famílias, associações, governos e organizações internacionais, segundo as competências e os deveres de cada um.
Assim, com vistas a dignidade humana, se poderá tentar alcançar o objetivo de garantir ao ancião condições de vida cada vez mais humanas, e de dar valor ao seu papel insubstituível numa sociedade em contínua e rápida mutação econômica e cultural. Será também, possível empreender iniciativas destinadas a incidir sobre os campos sócio-econômico-educacionais, a fim de tornar acessível a todos os cidadãos, sem discriminações, os recursos requeridos para satisfazer as necessidade antigas e novas para assegurar os direitos, para dar novas razões de confiança e de esperança, de participação ativa e de presença a quem foi afastado dos circuitos do convívio humano.
Todas as transformações e perdas que acompanham o processo de envelhecimento, segundo Lapenta (1996, p. 27), exigem atitudes de atendimento específico às necessidades psicossociais e espirituais. Sendo assim, a velhice é de fato um direito humano fundamental, porque ser velho significa ter direito à vida, dar continuidade a esse fluxo, que deve ser vivido com dignidade. (Ramos, 1999, p. 187).
Para que a sociedade avance moralmente, faz-se necessário que se reconheça a velhice como direito fundamental, levando-a, enquanto tal, efetivamente a sério, respeitando-a, porque, desta forma as demais fases da vida também estarão sendo protegidas, uma vez que uma velhice digna representa que o homem é respeitado enquanto ser humano.
A velhice, antes sequer presente no imaginário social (Ramos, 1999, p. 194), apresenta-se não somente como problemática social relevante, mas principalmente, como direito humano fundamental, reconhecido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu art. XXV.
Tendo a constituição de todos os povos registrado que a velhice traduz a própria força do direito à vida, que precisa ser vivida com dignidade, alguns países consideram adequado inscrever também em suas próprias constituições normas claras concernentes à proteção dessa etapa da vida.
Assim com vistas a dignidade humana, se poderá tentar alcançar o objetivo de garantir ao ancião condições de vida cada vez mais humanas, e de dar valor ao seu papel insubstituível numa sociedade em contínua e rápida mutação econômica e cultural. Será também, possível empreender iniciativas destinadas a incidir sobre os campos sócio-econômico-educacionais, a fim de tornar acessível a todos os cidadãos, sem discriminações, os recursos requeridos para satisfazer as necessidade antigas e novas para assegurar os direitos, para dar novas razões de confiança e de esperança, de participação ativa e de pertença a quem foi afastado dos circuitos do convívio humano.
Quando se fala de idoso institucionalizado, deve-se tratar da questão da problemática familiar em relação ao membros que vão envelhecendo, muitas são suas formas de inserção, uns continuam mantendo a família incluindo filhos e netos, outros são úteis junto a seus filhos continuando a viver suas vidas em harmonia, há ainda os casais que se mantêm juntos até o final de seus dias, mas, existem aqueles idosos que dependem de seus filhos e muitas vezes esses filhos trabalham e possuem seus afazeres, não podendo dar a mínima atenção ao idoso. Nesta situação muitos passam a viver institucionalizados.
O viver em um asilo faz com que muitas vezes os idosos sintam-se abandonados por seus familiares, que passam a visitá-lo esporadicamente, além de ficarem totalmente afastados do seu convívio social de amigos, vizinhos, festas familiares, encontros sociais, idas a clubes e muitas outras atividades que lhes causavam prazer até bem pouco tempo atrás.
Neste iterem a proposta de Oficina de Criatividade traz consigo uma oportunidade de elaboração de um trabalho junto aos idosos no sentido de diminuir angústias e aumentar a auto-estima através do despertar da criatividade e da nova inserção deste idoso neste período de sua vida.
O conceito de família mudou no século XXI, a dinâmica da vida moderna demanda muito tempo das pessoas e alguns ou todos os membros de uma família trabalham ou passam boa parte do dia e da noite fora do lar. Cuidar de um idoso, muitas vezes, exige dedicação, renúncia, disponibilidade de tempo e de dinheiro, estabelecendo-se um conflito na vida rotineira da família.
Embora em algumas situações, essas condições acabem fazendo com que a família busque instituições que cuidem de seu parentes principalmente os idosos. A maioria dessas instituições incentiva a aproximação dos familiares, solicitando-lhes visitas constantes e cuidados para com seus idosos, mas o que ocorre na realidade, é uma acomodação por parte da família, que se sente aliviada por delegar sua obrigação à terceiros. Os idosos têm suas limitações, que são agravadas por estas agressões morais da família, aumentam-lhes a sensação de inutilidade e assim, passam a desejar a morte.
O idoso acumula conhecimento e sabedoria ao longo de sua existência, este saber que poderá ser compartilhado é, no entanto, descartado como se não tivesse utilidade nenhuma. Além disso, os bens materiais, que por ventura tenha conseguido adquirir, lhes são tomados pelos familiares sob alegação de não terem mais nenhuma valia para eles. Se a vida, os valores e a dignidade de um ser humano perdem a razão de ser quando esta pessoa fica velha, o que, então, tem valor para o homem da nossa sociedade?
Dentro de uma instituição, mesmo sabendo que os idosos têm limitações, pode-se estimular suas reflexões e recuperar, pelo menos, parte de sua capacidade motora e intelectual. É importante conscientizá-los, de forma gradativa sobre as necessidades e da importância da interação nesse novo contexto social, criando um espaço em que os idosos sejam incentivados a desenvolver uma percepção integral de si e dos outros, através de exercício de sensibilização, expressão artística e corporal.
È possível estimular sua criatividade e imaginação, utilizando exercícios que integrem a várias formas de manifestações artísticas, e através do convívio, podem perceber a importância dos cuidados com seu corpo e mente, visando melhor qualidade de vida.
A Oficina de Criatividade como projeto universitário, foi inventada (Cupertino, 2001, p. 21), com a função de criar um espaço para que os alunos de psicologia pudessem dirigir o olhar para si mesmos, ao longo dos difíceis anos de iniciação profissional, por meio da vivência em um campo considerado como desencadeante de experiências. E para que pudessem os futuro profissionais, de alguma forma, consolidar essa atitude experimentadora como condição para o trabalho, presente ou futuro, que venham a desenvolver.
O fato de tal ou qual evento ou comportamento dos participantes ser ou não criativo foi deixando de ser a preocupação central da Oficina de Criatividade e passou a ser uma coisa entre as muitas que considera, o que torna essa atividade atraente como prática a ser desenvolvida e como foco de pesquisa.
Segundo Jordão (Morato, 1999, p.329), a Oficina permite alçar vôo, pois se remete, arcaicamente, às corporações medievais e à arte de aprender. É no ato consciente e re-experimentar os sentidos – tocar, ouvir, cheirar, movimentar, olhar – que as pessoas se propõem ao desejo de se inserirem na vida, de retomarem os seus caminhos.
As Oficinas terapêuticas expressivas podem devolver ao indivíduo o caráter de inserção, de produção, de sonho, de recuperação de sua alma. O contato com materiais de possibilidade criativa pode reavivar no indivíduo o seu sentido existencial. No aconselhamento, a figura do conselheiro remete-se ao lugar do conserto. Conserto no sentido de refinar para poder andar, conserto no sentido da possibilidade de facilitar a coexistência de instrumento diversos num determinado grupo.
Os exercícios propostos, a partir de atividades corporais e utilização de materiais expressivos, permitem aos participantes expressarem uma criatividade mais livre. Esta é uma experiência no sentido que coloca Walter Benjamin (apud Morato, p.334), como possibilidade de apreensão de fhashes do passado ou de memória, numa atitude mais ociosa, mais de revêrie do que uma atitude voluntária de descoberta do passado.
Os exercícios de relaxamento, de contato com materiais expressivos, tem a finalidade de propiciar aos participantes essa atitude como em um sonho, numa brincadeira ou num estar meditativo. Esse participante tem pouco a pouco uma memória de instantâneos reconstituídos e transformados em seus trabalhos expressivos. Estes mesmos trabalhos teriam a potencialidade de realizar ou de reavivar ao grupo a sua humanidade, individual e coletiva.
A função e atuação do psicólogo residem na atitude centrada na relação com o outro. Busca-se dar oportunidade de uma tomada de consciência e ampliação do potencial de cada participante por canais não-racionais e não-verbais de expressão. importante também é o planejamento, isto é, a constituição de cada grupo de acordo com a demanda e suas necessidades.
Cupertino, (2001, p. 17), afirma que o trabalho psicológico é carregado de particularidades que exigem do profissional um estado constante de atenção, simultaneamente endereçada a ouvir o outro e, ao mesmo tempo, a si mesmo. Permitir que os sentidos possíveis escoem das experiências vividas, de ambas as partes, é o que dá contorno àquilo que faz parte do conteúdo teórico-prático profissional. Nem tudo que a teoria diz aparece na prática, e nem o que é vivenciado na atuação é coberto por conceituação teórica precisa.
Para preencher as lacunas, permitindo que deles surjam significados relevantes, o psicólogo tem apenas a si mesmo, sua capacidade de descentramento, de estranhamento, de paciência. Iniciar-se na vida profissional significa para o aprendiz desenvolver essas habilidades. Não é mera aplicação linear do conhecimento adquirido o que se espera dos futuros psicólogo, a prática profissional exige a mobilização de uma variedade de recursos pessoais, o que pode ser, em alguns momentos, fonte de angústia.
Entretanto, Cupertino (2001, p.21) refere-se ao vazio gerado, dentro do íntimo do profissional, pela impossibilidade de capturar o conceito, uma vez que à criatividade se aplicam quase tantas definições quantas foram as pessoas que a tentaram compreendê-la.
Trabalhar com a criatividade é viver um eterno processo de aprender, desaprender e reaprender, o que, se é desconfortável porque é instável, promove quase que um constante tornar-se (tornam/voltam) a si mesma, tornando-se outra diante das coisas em geral.
Tentar compreender o criar e o inventar, é um processo de criação e invenção, uma vez que o fenômeno é fugaz em essência. Na tentativa de apreendê-lo, o profissional reconhece o beneficio de permanecer mais atento ao que acontece a sua volta, tendo sua vivência, atrelada à constatação da impossibilidade cada vez maior de realizar essa apreensão de forma definitiva.
Segundo Schmidt e Ostronoff (Morato, 1999, p. 335), as Oficinas de Criatividade caracterizam-se como espaços de elaboração da experiência pessoal e coletiva por meio do uso de recursos expressivos, tais como movimento corporal e atividades de expressão plástica e de linguagem.

O psicólogo, ou o Oficineiro (idem, p. 336), tem a função de facilitador, para quem o fundamento de sua atuação reside na atitude centrada na relação com o outro, o grupo e as pessoas que dele participam. Colocando-se como especialista, o facilitador é alguém que se oferece de maneira atenta, autêntica e respeitosa a conviver com o outro para que este possa, em liberdade, experiênciar-se e compartilhar essa experiência (Rogers, 1977, p. 30). Ser facilitador é estar com, estar junto, acompanhar. Durante a realização de cada Oficina o facilitador propõe e coordena a atividade atento aos movimentos e indo ao encontro destes movimentos. Sua intervenção só ocorre na medida em que facilite a explicitação dos modos de criar de cada um.

A Oficina de Criatividade desempenha, em uma instituição para idosos, um papel de fundamental importância, uma vez que, por meio dela, é possível executar a expressividade e modificar a forma de ver o mundo. A implantação de Oficina de Criatividade obtém, como produto adjacente, uma visão do ser humano contemporâneo, utilizando a arte como estímulo sensorial, despertando suas capacidades. O fazer artístico viabiliza a educação estética, permitindo-nos a fruição da criatividade, o contato com os mais diversos tipos de materiais e soluções, tornando-se uma atitude de reflexão e análise.
Para Jordão (Morato, 1999, pp-333-334), a Oficina de Criatividade não tem caráter de terapia, mas um efeito terapêutico, garantindo um suporte para o indivíduo. Por meio dela, pode ser gerado um clima acolhedor, garantindo um espaço para que o participante se recoloque, verbalmente ou não.
A Oficina de Criatividade caracteriza-se como um espaço de elaboração da experiência pessoal e coletiva por meio dos recursos expressivos, tais como movimento corporal e atividades de expressão plástica e de linguagem.
Criar um espaço para que os idosos possam desenvolver uma percepção de si e do outro através de atividades, exercícios de sensibilização e expressão artística, estimular a criatividade e imaginação, usando as várias formas de manifestações artísticas que a Oficina de Criatividade poderá proporcionar com esses indivíduos.
Conduzir o grupo a uma conscientização gradativa e continua da necessidade e da importância dos cuidados com seu corpo e mente, estimulando a criatividade e imaginação através de exercícios que interagem as varias formas de manifestações artística. Utilizar-se a arte com as suas variadas formas de expressão como estímulo sensorial, despertando a estimulação e as capacidades do idoso.
Realizar exercícios de sensibilização dos sentidos, trabalhando as percepções, explorando suas possibilidades e a capacidades de cada um, a partir da vivência e experiência própria.
Trabalhar não só os conflitos e angustias, mas, o florescimento das potencialidades criativas, desenvolvendo em caráter de produção, sonho recuperação da auto-estima, interação e integração dos idosos na instituição.
Utilizar a arte com algumas ou suas variadas formas de expressão, como estímulo demarca um lugar para a Oficina de Criatividade como prática possível para o atendimento à população de idosos, trabalhando percepções, explorando suas possibilidades, criatividade, levando em considerações as necessidades e interesse de cada um, visando um espaço interativo de criação e liberação da criatividade e a partir dela, perceber a realidade do mundo de sua dignidade, de poderem entender este universo e interagir com ele de forma produtiva e agradável para a sua sobrevivência.
Analisar a sua possível mudança e a adaptação à instituição, levando em conta que sendo indivíduo é um ser em constante evolução, participante de um mundo externo real ao qual sofre impactos e no qual também provoca reações.
A Oficina de Criatividade pode desempenhar um papel de fundamental importância uma vez que, por meio dela exercita-se a expressividade e a forma de ver o mundo. O fazer artístico viabiliza a criatividade e o contato com os mais diversos tipos de elementos que constituem a linguagem artística em uma atitude de constante reflexão e análise.
Através da Oficina de Criatividade, a potencialidade criativa expressiva de cada um emerge a partir da prática, levando em conta o ritmo, as necessidades, e os interesses de cada um, visando um espaço interativo de criação. Os trabalhos ressaltam as potencialidades, fazendo reviver no grupo a sua condição de humanidade, individualidade e coletividade. A implantação de Oficina de Criatividade em instituições para idosos poderá vir a ser uma mudança no conceito do modo de viver dos idosos.
Desta forma a Oficina de Criatividade pode possibilitar o refletir sobre a viabilidade da modalidade de intervenção psicológica nos momentos tocante em que os idosos podem entender o mundo em que estão, fazendo com que aflorem e tornem viável o que possuem em seu interior, em formas de idéias e anseios liberando a criatividade e a partir dela perceber a realidade do mundo que os cercam e criando condições pessoais com o aumento da auto-estima.
Olhar para os produtos não é psicologicamente interpretativo, mas compreensivo, visto que é a partir do significado que cada pessoa atribui a seu produto que inicia a ajuda na percepção das dimensões do fazer criativo, das formas de se dar e de facilitar.
O tempo e o espaço podem ser radicalmente subjetivos, pois tanto a cronologia do chamado tempo objetivo, quanto os contornos materiais de um determinado espaço são usados e transformados por este processo em direção quase sempre imprevisíveis.
Por esta razão, as disposições espaço – temporais podem ser consideradas, pelo oficineiro, como uma espécie de matéria - prima que será metabolizada pelos participantes de uma Oficina de Criatividade. Isto significa dizer que a reflexão em torno do tempo e do espaço em que e no qual acontecem as oficinas, não é subsidiária ao planejamento ou proposição de um trabalho, mas aspecto fundamental para a obtenção de condições favoráveis ao processo criativo.
No que diz respeito ao tempo a estruturação de uma Oficina inclui a previsão de divisões que permitam contemplar um momento de aquecimento, um período para a realização do trabalho propriamente dito e, finalmente, um para o fechamento.
Quanto aos recursos corporais e materiais a serem utilizados é, em si, uma prática que pode propiciar a descoberta e a ampliação da própria criatividade de cada um dos participantes. Os recursos corporais favorecem a sensibilização, conscientização e expressão de maneira que a pessoa redescubra e amplie o contato com o corpo, enquanto lugar de sensações de relaxamento e tensão, prazer e desprazer, experiência gestos, ritmos e movimentos novos ou perceba os já usuais, dando-lhes sentido, o que não só enriquece, mas, sobretudo, traz um sentimento de interesse e consistência, permitindo modos criativos de abertura para o corpo.
A sensibilização sensorial possibilita a abertura de canais de conhecimento do mundo, pouco experimentados criativamente, numa sociedade eminentemente visual.
A música suscita climas emocionais, diminui a ansiedade, facilita o relaxamento e a expressão livre de julgamentos racionais, solta os movimentos corporais, conduz a gesto e possibilita a fantasia e a imaginação criadoras.
Quanto aos recursos plásticos, estes possibilitam que a pessoa exteriorize e expresse criativamente além de possibilitar que esta mais facilmente, aproprie-se de si mesma, não permanecendo na solidão inerente aos processos de contato interior, ao mesmo tempo em que facilita o compartilhar com o grupo, criando condições para a participação social.
De acordo com Morato (1999, p. 334), o contexto institucional inclui, inicialmente, um aspecto essencial: a constituição do grupo participante. A singularidade dos grupos pode ser abordada pela diferenciação de duas modalidades:
a) grupos institucionais – construídos, fundamentalmente, por participantes que formam uma equipe de trabalho em instituição de saúde ou educação.
b) Os coletivos: formados a partir da divulgação das Oficinas num determinado circuito (comunidade, bairro ou mesmo instituições).
Para a primeira modalidade é recomendável que as Oficinas aconteçam em decorrência da explicitação de uma demanda por parte das equipes. Requer discussão e a clarificação desta demanda com as equipes, bem como o estabelecimento de uma região comum de objetivos e intenções.
Quanto a segunda modalidade, podem ser feita através de divulgação. Cabe ao Oficineiro direcionar a formação do grupo que não será meramente um conglomerado de pessoas dispersas.
O uso que os participantes das oficinas vêm fazendo do espaço de expressão que lhes é oferecido indica uma disposição para apropriar-se da história pessoal e do legado cultural de seus antepassados, bem como a vontade de conviver socialmente com seus pares.
Para Zinker (In: Morato, 1999, p. 266), o trabalho com grupo é definido como:

“(...) um grupo não é somente uma pequena comunidade coesa onde as pessoas se sentem recebidas, aceitas e confrontadas; também é um lugar e um ambiente onde as pessoas podem criar algo em comum. Um grupo ideal é um local onde uma pessoa põe à prova seus limites de crescimento, uma comunidade cujos membros podem desenvolver até os mais altos níveis sua potencialidade humana”.

Neste contexto, pode-se definir o grupo como comunidade de aprendizagem, ou seja, conjunto de pessoas que se reúnem à volta de outra mais capacitada que as dirige, para resolverem problemas pessoais e interpessoais... A aprendizagem supõe mudança de comportamento, não só em favor da adaptação e do ajuste, mas também como movimento rumo a níveis mais altos de compreensão e realização de si próprio.
Existem três grandes categorias de modelos grupais que apresentam consideráveis diferenças entre si. O primeiro modelo concentra a leitura compreensiva dos eventos grupais na relação de cada participante com o terapeuta e, secundariamente, nas relações daí decorrentes entre participantes. O segundo modelo enfoca a relação do grupo como um todo com o terapeuta. Estes modelos teriam como bases diferentes correntes psicanalíticas, enquanto que o terceiro modelo teria sua origem na psicologia social, sendo empregada sobretudo na psicoterapias de base existencial e nos grupos de treinamento em relações humanas, de sensibilização e percepção interpessoal.
O terceiro modelo focaliza as relações interpessoais entre membros, dos quais o terapeuta é um, embora desempenhe uma função especial. O que procura compreender é a constelação de vínculos e papeis, padrões, normas e pressões grupais, a nível afetivo e funcional. Questões de poder, conflitos, expectativas, etc; são tratadas enquanto pertencentes à situação presente, a postura do terapeuta não favorece o aparecimento de fantasias a nível transferencial. A leitura dos eventos é predominantemente fenomenológica.
Esperamos assim, termos oferecido um pequeno referencial teórico, para questões tão abrangentes e de diversas faces e interfaces, de forma a mostrar de maneira bastante sintetizada qual é a condição de vida dos idosos nos dias atuais e apresentarmos a proposta de Oficina de Criatividade como instrumento de modificação da percepção da situação que o idoso institucionalizado tem de si mesmo e dos outros que o cercam.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O interesse pela pesquisa se deu pelos contatos pessoais mantidos anteriormente com elementos que praticam um trabalho voluntário junto a idosos institucionalizados – sobre o sofrimento e as formas de intervenção na vida desses idosos.
Ao comentar com uma amiga que deveria fazer uma pesquisa em uma instituição a mesma colocou-se a disposição para apresentar-me numa instituição que conhecia, depois de confirmado o interesse, ela colocou a disposição caso precisasse para fazer os primeiros contatos. Ele informou que poderia telefonar marcando horário para uma entrevista.
Meu primeiro contato com a instituição iniciou no dia 1º do mês de abril, foi agendada uma entrevista para o dia 15/04/03 às 14h00 com a coordenadora.
Ao chegar fui atendida pela Sra. Aparecida (coordenadora) todos foram amáveis, cordiais, desde o porteiro até a coordenadora. Geralmente as instituições ou a maioria delas nos recebem com um certo ressentimento, colocam barreiras, obstáculos ao nos receber. Nesta instituição foi o contrário. Foram atenciosos, acolhedores, fato importante que facilitou a realização do meu trabalho.
Observei que a instituição não tinha nenhuma atividade, além da sala de TV. Ao visitá-los em seus quartos, percebi como sentiam falta de atenção, carinho; todos queriam conversar, saber quem eu era, o que estava fazendo ali, se voltaria. A solidão se espelhava em cada olhar distante, demonstrando o sofrimento causado pelo abandono da própria família, dependente da bondade de cada um.
Percebi que a instituição em geral está preocupada com o bem-estar físico, alimentação, medicação, mas não proporciona nenhuma atividade para os idosos. Supomos que a atividade de Oficina proporcionará estímulos tantos físicos quanto psicológicos.
Optei por fazer um grupo com mulheres, pois a instituição é mista e havia quase o mesmo número de homens, porém, como a própria instituição separa os sexos obedeci à norma da casa. O grupo foi flutuante, porém das 25 idosas iniciais e as que foram entrando durante esse período, não houve nenhuma atividade de Oficina que contasse com menos de 70% das moradoras.

Quando observava ou escutava suas histórias sempre me emocionava, algumas buscavam criar uma possibilidade para passar o tempo, por outro lado via a acomodação, o esperar pela morte, a solidão, o sofrimento, o enrijecimento da alma. Porque não trabalhar através das Oficinas a superação, os obstáculos, o fortalecimento da auto-estima, promovendo uma interação entre os idosos?
Algumas das idosas sabiam transpor a solidão, tristeza, Sra. H e Sra. M. são um exemplo, não ficam em seus aposentos, desciam todos os dias, ficando no quiosque, M. como ajudante e aluna, Sra. H dando aula de reforço para os alunos do Bairro. Elas passavam o tempo, os dias, os meses e anos, algumas vezes saiam, mas não com freqüência. Mas mesmos assim pensei, são como pássaros presos na gaiola, a única saída é cantar para espantar a solidão, como deve ser difícil.
Depois de conhecer um pouco mais a instituição e a dinâmica, devemos pensar na flexibilidade, necessidade de uma postura alegre, curiosidade, prestigiar a criatividade, desde o primeiro contato, devem cultivar uma relação de integração desde o mais humilde cargo até a coordenação. Esse vínculo faz-se necessário, desde a primeira entrevista.
Essa inter-relação e sua autenticidade é uma eficiente arma para se conseguir aceitação e colaboração, pois numa instituição para idosos como esta onde a maioria dos idosos tem problemas físicos, necessitamos da colaboração de todos.
Necessitamos apresentar o que é Oficina, pois a maioria não sabe o tipo de pesquisa que você realizará. É importante que cada atividade de um feedback para a pessoa responsável pela instituição. Isso promove um vínculo com as pessoas, pois ficam curiosos para saberem o que estão fazendo. É interessante que sejam convidados a participarem de uma Oficina para sentirem e vivenciar e como se faz uma Oficina.
Reservar um espaço para a participação seja ela individual ou em grupo, é um espaço de troca, onde as linguagens mentais, corporais, emocionais e espirituais devem focar os acontecimentos globais, as expressões sejam de interesse ou defesa, motivando à pergunta e comentário que ampliam o assunto, explorando o modo como as pessoas então se posicionam. Deixando fluir seus pensamentos, fazendo sentirem-se felizes, com espontaneidade e sentindo bem motivados.

A instituição que visitei e atuei, provavelmente como a maioria delas, cria um ambiente isolado e restrito, e com a Oficina de Criatividade, acredito que pude oferecer às idosas uma nova oportunidade de vivenciarem novamente toda sua experiência de vida e renovar seu lado humano, refletindo sobre o seu existencial e a partir desse conhecimento, por si mesmas procurarem modos de transformação.
Durante minha permanência na instituição algo foi se internalizado durante as Oficinas e durante as observações, o que antes era visto com algo impiedoso, doloroso, era uma crença minha que elas estavam sofrendo, muitas delas não conseguiam comer, tomar banho, eram feitos por voluntários, não tinham privacidade alguma, dependiam deles, mas estavam sempre alegres e sorrindo, com o passar do tempo fui percebendo que estavam acostumados com aquela rotina, não ligavam mais, pois se não fossem eles estariam, talvez pior.
No inicio essas situação deixou-me angustiada, triste durante o período de permanência a Oficina foi um crescente uma coisa interessante hoje ao rever meus relatórios de observações que fiz durante dois meses, percebi como sentia, como elas estavam e estão hoje. Percebi a movimentação que proporcionou a Oficina.
            Na segunda observação ao chegar à ala feminina, algumas estavam dormindo, outras deitadas com os olhares fixados no teto. Na sala de TV estavam algumas senhoras, cada uma em seu canto assistindo à novela, ninguém conversava.
            Quando iniciaram seus relatos para que pudéssemos conhecer um pouco mais da vida de cada uma, pois facilita o vínculo com os participantes, gera uma aproximação entre ambos Vários relatos foram avaliados como eram antes e como estão hoje, a maioria delas modificaram, houve uma mudança significativa num conjunto.
Mas agora reflito sobre tudo e percebo que ao longo desse período algumas já não estão entre nos, já se foram, quatro ou seis talvez, lembro de algumas que deixaram saudade, pelo modo de ser. Outras não tiveram muito contato, pois durante as férias partiram. Neste tempo somente uma idosa foi para sua casa, pois seu filho veio buscá-la.
Ter um autoconhecimento torna-se um facilitador, pois traduz em segurança quando temos que improvisar nas Oficinas. O planejamento é essencial nos dá conforto e confiança no que vamos aplicar, mas podem ocorrer improvisações.

O imprevisto pode ocorrer, transformá-lo é um desafio que será de grande valia, uma experiência que deve ser encarado com tranqüilidade, pois o medo de errar é um grande bloqueio, encarar e improvisar faz parte daquele que trabalha com a Oficina, caso algo não der certo, a coisa mais importante é esclarecer ou assumir, dando um sorriso, e mostrar que da próxima vez talvez conseguia e que junto solucionamos uma experiência e solucionamos o caso com criatividade que temos possibilidades de buscar outras formas para realizar as Oficinas.
É necessário que se planeje sempre com antecedência mais de uma atividade, pois caso uma não der certo para aplicar você tem em mente o que poderá fazer, portanto só saberá o que fazer depois das observações e coletar os dados da demanda onde realizará a pesquisa.
            A partir da demanda é que se inicia com as atividades. O supervisor foi de suma importância nessa etapa, pois foi nos direcionado o que seria melhor aplicar a cada momento da Oficina.
Ao implantarmos uma Oficina um dos entraves ao bom desempenho e desenvolvimento do grupo é o de vencer a inibição e a vergonha iniciais existentes nas pessoas e fazê-los interagir com o restante do grupo e com o facilitador ou como se refere “Oficineiro” Podemos dizer que isso não se dá na primeira Oficina, mas ao longo das Oficinas, pois vão formando os vínculos, este vão sendo fortalecida, a confiança aumentando.
Após algumas atividades fui adquirindo habilidades, pois o convívio vai demarcando o que são necessários naquele momento.
            Perguntava-me constantemente se os objetivos seriam alcançados? Conseguiria estimulá-los a participarem da Oficina? Saberia direcionar e envolvê-los? Saberia intervir na hora certa? O tema está de acordo com a demanda?
.           Foram perguntas que surgiram ao iniciar esta pesquisa, pois como foi um projeto de implantação dúvidas sugiram. Mas ao perceber que as atividades eram apenas um caminho para conseguir os objetivos, elas foram ao longo do período sendo exemplificada.
A cada Oficina meu envolvimento foi crescendo, minha segurança aumentando e as demandas surgindo e novas direções iam sendo organizadas.
           
A cada sugestões dos idosos foram encorajado, acatado, prestar atenção é de suma importância e dizer que vamos considerar suas idéias e aproveitá-las. Os estímulos devem ser focalizados sempre.
Conforme já mencionei, o objetivo principal do meu trabalho era criar um espaço para que os idosos pudessem desenvolver uma percepção de si e do outro, através das atividades e exercícios de sensibilização e expressão artística.
Com a oficina de Criatividade, pretendia conduzir o grupo a uma conscientização gradativa e contínua da necessidade e da importância dos cuidados com seu corpo e mente; estimular a criatividade e imaginação através de exercícios que integrem as várias formas de manifestações artísticas.
O meu trabalho não foi focar os conflitos e angústias, mas sim, no florescimento das potencialidades criativas, desenvolvendo um caráter de produção, sonho, recuperação da auto-estima, interação e integração dos idosos na instituição.
Por ser a oficina de criatividade caracterizada como um espaço de elaboração da experiência pessoal e coletiva através dos recursos expressivos, tais como movimento corporal e atividade de expressão plástica e de linguagem, espero que a Oficina pode proporcionar um papel de fundamental importância, uma vez que, por meio dela, pode-se exercitar nossa expressividade e nossa forma de ver o mundo.
O fazer artístico viabiliza a nossa criatividade e o contato com os mais diversos tipos de materiais, bem como com os elementos que constituem a linguagem artística em uma atitude de constante reflexão e análise.
Através da oficina, pude desenvolver com os idosos as suas potencialidades expressivas a partir da prática artística, pude trabalhar a integração deles com a arte. A articulação de cada atividade levaria sempre em consideração o ritmo, as necessidades e os interesses de cada um, visando um espaço interativo de criação. Os trabalhos puderam ressaltar as potencialidades, fazendo reviver no grupo a sua condição de humanidade, individual e coletiva.
            A minha função e atuação foi direcionar nas atitudes centrada na relação com o outro. Buscando dar oportunidade a uma tomada de consciência e ampliação do potencial de cada participante através de canais não racionais e não verbais de expressão. Fazendo também o planejamento: constituição de cada grupo de acordo com a demanda e suas necessidades.
As expectativas fazem uma interligação com a experiência fornecendo um entendimento de algumas questões e valores de nossa cultura, como por exemplo, a compreensão do significado conferido à velhice, a aceitação ou não da condição da vida humana da evolução do saber durante a velhice; e ao mesmo tempo, trazer subsídios para o enfrentamento das inúmeras discriminações sociais que afetam direta e indiretamente os idosos em instituições.
A finalidade e o interesse foi entender a vida dos idosos em uma instituição: como eram as interações internas e com o ambiente que insere a instituição, como se processava a integração com os novos membros do grupo, quais eram os maiores temores da população de uma casa para idosos, quais eram as conseqüências e os sentimentos gerados pela privação do convívio familiar, a que tipos de motivação respondiam os internos, o que mais os assustava – falar do passado ou do futuro, que tipo de artifícios a mente do idoso utilizava-se para conviver com a falência física, e outras questões mais que podiam contribuir para a compreensão da vida em um lar para idosos.   
Durante minha permanência na instituição pude verificar o quanto é difícil cuidar de um idoso, muitas vezes, exige dedicação, renúncia, disponibilidade de tempo e de dinheiro, estabelecendo-se um conflito na vida rotineira da família.
Além do que a instituição sempre incentivou a aproximação dos familiares, solicitando-lhes visitas constantes e cuidados para com seus idosos, mas o que ocorria na realidade, era uma acomodação por parte da família, que se sentia aliviada por delegar sua obrigação a terceiros.
Por que a família age desta forma? Os idosos têm suas limitações, que são agravadas por esta agressão moral da família; aumenta-lhes a sensação de inutilidade e eles passam a desejar a morte. Uma reflexão se faz necessária. Mesmo sabendo que os idosos têm limitações, podemos estimular suas reflexões e recuperar, pelo menos, parte de sua capacidade motora e intelectual.
Podemos conscientizá-los, de forma gradativa, das necessidades e da importância da interação nesse novo contexto social. Pode-se ainda, criar um espaço em que os idosos sejam incentivados a desenvolver uma percepção integral de si e dos outros, através de exercício de sensibilização, expressão artística e corporal.
Pode-se estimular sua criatividade e imaginação, utilizando exercícios que integrem a várias formas de manifestações artísticas e através do convívio com os elementos da natureza. Podem ser orientados de forma gradativa e continua a respeito da necessidade e da importância dos cuidados com seu corpo e mente, visando melhor qualidade de vida.
A Oficina de Criatividade é como a arte de criar, pois favorecer um ambiente em que as pessoas com todas as suas pertinências expressam algo de pessoal e espontâneo, algo com sabor de novo.         

 

”Lá as meninas cuidadora da gente era muito problemática, tinha problema muito maior que o da gente dias que elas tavam tudo grosso, grossa mesma. Precisava da gente, tá entregando elas pra diretoria, a chata dessa, né e a gente discutia muito e eu passava muito nervoso. Ai, o dia que eu ficava nervosa, eu não conseguia dar um passo, porque eu sou assim. Não sei por causa de que. Aí foi por onde, eu vim parar aí. Parece que as daqui são mais carinhosa, mais amorosa se são bem”.

A partir da terceira Oficina as idosas começaram a participar mais ativamente. Algo interessante, pois observamos que o ser humano é complexo um leva um tempo maior que o outro para se expor.


            Ensinar Oficina é aprender sempre, quando coloquei em prática as Oficinas e as idosas davam seus depoimentos aprendia algo novo, portanto, não temos certo ou errado, não têm uma única possibilidade no que poderia emergir; a que cada individuo sentiu naquele momento.
A Oficina pode abrir caminho, a desvendar o mundo, ensinar a crescer, aprender, ou seja, reinventar o inventado. Nosso foco era a mudança, inovação, interação e a integração entre eles e isso a Oficina possibilitou, pois conscientizou seus bloqueios, seus limites que só podem ser ultrapassados por ele mesmos.
A Oficina facilitou esse processo. Outro fator interessante foi às pessoas que ao participar umas realmente entrava na vivência da Oficina, outras participava, mas por interesse, outras ficava em silêncio durante as Oficinas realizadas, outras curtiam o trabalho dos outros, há características que durante as atividades foram emergindo como o medo, desânimo, timidez, insegurança.
           
Segundo Canôas, 1985, p. 39, o idosos necessita de contato direto e permanente para considerar alguém como sua família. Os que escolheram o grupo de convivência ou algum amigo especial estão distantes da família por algum motivo e adotaram outras pessoas com as quais realmente mantêm relações familiares mais amistosas e gratificantes, se comparadas com os que vivem com a família real. O grupo de convivência e os amigos dão ao idoso a solidariedade esperada em todos os momentos da vida
Nas Oficinas essas pessoas começaram a participarem. Algo interessante, pois observei que o ser humano é complexo cada um leva um tempo maior que o outro para se expor.

“Ela nem me conhece”.
            “Eu gostei de pegar amizade com ela. Agora ela vai lá no meu quarto, o que eu não conheço a parte de lá, onde que ela fica. Não conheço nada daqui, porque não saio do meu quarto”.
“É que a tivesse mais paz né, dentro da casa, porque tamo em cima do mesmo teto. Se tamo tudo em cima do mesmo teto somo tudo uma família só. Eu não sei se ela sente a mesma coisa Porque eu já vou fazer dois meses aqui, e eu não tenho muita intimidade com ninguém. Sou como fosse uma estranha, que acabou de chegar hoje. Somos tudo como se fosse umas estranha debaixo do mesmo teto, eu acho que é horrível, viu”.
            “Gostaria de falar, no momento não sei, o que dizer. Primeiro, gostar dela como amiga”. “Depois em segundo, em segundo, eu oferecer alguma coisa para ela... Ofereci para outra. Enfim, é um caso... É um caso sério”.
As Oficinas de Criatividade mostrou que estas são viáveis como veículo de interação entre os idosos e na compreensão geral da realidade deles. Nas atividades observou-se a imensa dificuldade que algumas idosas encontrava em reproduzir o que sentiam, de experimentar algo novo, pois tinham medo de errar. Algumas precisavam de ajuda.
“Não precisa falar, todo mundo sabe”. “Ninguém quer falar”.
“Fale para ela. Você sabe”.
“É para você falar o seu versinho ai”.“A Batatinha”.
“Eu disse eu e a outra. Agora não sei de mais nada”.

Nas Oficinas a integração entre elas deu-se de forma lenta, pois como são adultos possuem suas crenças e valores e muitas vezes não abrem mão de suas opiniões, porém, muitas vezes olhavam umas para as outras para ver o que faziam em comparação a sua parte na atividade. Elas tinham a preocupação em fazer algo inteligível, bonito, certo.
“Você quer fazer o perfume? Não. Faz o perfume”.
A experiência foi difícil tanto para as idosas como para mim futura psicóloga, porém significante. Minha visão foi o que as idosas traziam naquele momento. Não é como um trabalho de consultório, é dinâmico, pois envolve muitas pessoas de uma só vez, onde uma acrescenta algo à outra, eu não podia interferir em determinados momentos, mas quando foi possível, tentei dar um novo ritmo ao desenrolar da Oficina, propondo atividades e assuntos baseados no cabedal teórico que recebi durante o curso de psicologia.
No decorrer das atividades foi possível observar mudanças significativas na forma das idosas relacionarem-se umas com as outras, pois houve uma maior aceitação das diferenças individuais e uma maior integração do grupo. As idosas também desenvolveram uma maior valorização de suas próprias produções, o que favoreceu a confiança em si mesmas e nas construções tanto materiais como afetivas realizadas por elas.

“Estávamos conversando sobre...”.
“Lembro da Bahia com meus filhos, quando eram pequenos”.
“Sempre lembramos do que fazia. Essas comidas caseira lá do interior. Era uma delicia!”.

Meu papel como futura psicóloga dentro de uma Oficina de Criatividade foi fazer com que todos os participantes acreditassem em suas capacidade como co-criadores de suas próprias vidas, e as modelassem para corresponder aos anseios íntimos e talentos.
A Oficina em instituição para idosos para mim foi de suma importância, pois possibilitou promover a exploração da criatividade adormecida pela rotina de suas vidas, promoveu, em mim, futuro profissional uma transformação e uma nova visão sobre o universo das pessoas e da forma como podemos atuar. Quanto às idosas, no cotidiano de uma instituição acabam por perder a curiosidade, e a capacidade de criar, pois todos os acontecimentos rotineiros não geram novas idéias, e por isso não nutrem mais seu lado criativo.
Acredito que durante o tempo em que fiz atividade de Oficina, pude promover algumas modificações na rotina do dia-a-dia, pelo menos um dia da semana às idosas passaram a ter algo novo, ou uma forma nova para pensar e para criar.
Para as idosas, com as quais trabalhei, percebi que a instituição também não oferecia novas informações sobre os mais variados assuntos, o que não contribuiu para o aguçamento da curiosidade, esta ficava relegado a encontros casuais, que necessariamente não oferecia a oportunidade de novas descobertas.
O velho em instituições, de acordo com Goffman (1974, p. 15), é posto a vegetar, vai perdendo sua originalidade, sua vontade, sua capacidade de projetar o futuro, seu raciocínio, sua memória, estando sempre à parte do processo da vida. No cansaço e no desgaste do dia-a-dia, a vida vai passando.
“A gente não pode sair para comprar uma fruta, um doce, não dá para sair. Se a gente tá com vontade de comer uma coisa, não dá para ir”.
“A gente não tem dinheiro pra gastar. Na minha casa, eu faço terapia para ganhar dinheirinho, para comprar tudo o que eu queria, eu tô doente”.

“Essa rua aqui não dá para a gente sair. Chega ali à gente se perde”.
“Lembro do tempo da que era mais... Era um tempo em que a gente divertia, era tudo alegre, agora acabou”.
“É. Eu não era assim”.
“Porque é tudo triste. As coisas vão ficando velha, você não vai mais gostando daquilo, vai ficando triste. Quando tá novo tá bom, quando fica velho tá ruim”.
“Meu marido morreu eu fiquei muito triste”.

“Fica muito triste”.
A instituição que visitei, como a maioria delas, cria um ambiente isolado e restrito, e com a Oficina de Criatividade, acredito que possa oferecer às idosas uma nova oportunidade de vivenciarem novamente toda sua experiência de vida e renovar seu lado humano, refletindo sobre o seu existencial e a partir desse conhecimento, por si mesmas procurarem modos de transformação.

 “Gosto de conversar uma com as outras”.

“Eu durmo com ela, rezo com ela e ela me ajuda e ajuda o meu marido também. Eu faço as orações e oro por todos vocês. Olha hoje de manhã, ela dormiu comigo, por isso não tenho tristeza, porque tenho ela. Ela é alegria da minha vida. Eu não peço nada, eu sei que ela vai me levar... Eu não largo dela. Eu a tenho. Não tenho ninguém. É vai ajudar todos vocês”.


Observei que a Oficina também proporcionou às idosas a oportunidade de descobrirem, de alguma forma, o prazer do ato de inovar, de conhecerem o sentimento de estarem ainda interferindo no mundo e que não são “velhas inúteis”, e assim passarem a procurar mais o campo da criação, imaginação, e das fantasias, ou seja, não desanimarem e romperem seus bloqueios, questionando novas maneiras para enfrentarem e resgatarem uma parte do que perderam da sua liberdade de ir e vir. Os obstáculos, à liberdade e à criatividade, em uma vida comunitária devem ser absorvidos e transcendidos no total humanização do indivíduo.


Observei que muitas vezes as idosas tinham preconceitos que bloqueava a sua criatividade e sua inserção no grupo, por exemplo: em uma das atividades envolvendo pintura uma das idosas não quis participar afirmando que: “as idosas não podiam pintar porque estavam velhas”. E mesmo com a intervenção no sentido de integrá-la a idosa ficou durante toda a atividade apenas observando. Não exprimiu nenhum sentimento de aprovação ou desaprovação, seu sentimento de inferioridade por estar velha não lhe permitiu um momento de descontração e de atividade conjunta.
Quando iniciei as atividades de Oficina, percebi o quanto é difícil para uma pessoa institucionalizada, que se sente só e sabe, mesmo que expresse o contrário, que seus familiares, principalmente seus filhos, as colocaram lá para uma recuperação, mas na verdade nunca mais elas sairão de lá, pois a vida de seus parentes provavelmente não as incluem.

 

“Você gostaria de ficar trancada dentro do asilo e não poder sair? Mas, nós temos um problema. A gente lembra demais dessas coisas mais dura do mundo. É você. A coisa é muito bom demais. Mas a gente não pode sair para comprar uma fruta. Não dá par sair. da vontade de comer uma coisa, não dá par gente sair. A gente não tem dinheiro par gastar”.


“É aquela casa aí. Eu ia na quinta-feira. Não tem”.

Durante a realização em todas as Oficinas, algumas idosas, nem sempre as mesmas, falavam de sua intenção de voltarem para a casa de seus filhos e de viverem junto com seus netos, estas falas em geral eram fantasiosas, pois, sabiam que não voltariam para o convívio de seus filhos, porém, ao falarem sobre isso causa um certo conforto e uma forma de luta contra a certeza do abandono.
Porém, durante a participação nas Oficinas, muitas passaram a ter mais aflorada a sua criatividade e a gostarem de participar das atividades e passaram a interagir mais com as colegas ao invés de estarem criando formas falsas de protegerem-se contra o abandono.
De acordo com Goffman (1974, p. 15), os filhos, quando existem, já estão enfrentando os seus próprios problemas, o velho fica só, sem reservas, sem saúde, sem planos, precisando somente de um lugar para comer, higienizar-se e dormir. Neste momento passam a institucionalizar-se, e então sua vida torna-se cada vez mais sem sentido, passam desta forma ao estado de isolamento.
Em uma das Oficinas foi feitos vários depoimentos muito claro e realista o porque esta idosa estava na instituição:

 

“Meus filhos não têm condições de me acolher em sua casa por não ter espaço físico ou condições mínima básicas para assumir mais uma pessoa para alimentar, pois não tem uma vida digna para sua própria família e seria pior com uma pessoa que necessita de cuidados especiais, pois todos trabalham fora, ficando assim, impossibilitados de assumirem compromissos, o dinheiro da aposentadoria não daria nem para os remédios”.

Algumas idosas estava na instituição por problemas financeiros e submetiam-se às regras, e normas, pois necessitavam de cuidados que não tinham oportunidade de conseguir em casa.
A cada Oficina percebi o quanto à música, o filme e a poesia proporcionam um bem estar, acabando, pelos menos naquele momento, com a tristeza, a decepção, a depressão ou a confusão. As idosas tiveram a possibilidade através do ato de ver e ouvir coisas que davam eco em seu passado e, através disto, saírem de um estado de desanimo e poder abrir-se e falar, como nos seus depoimentos puderam refletir sobre suas vidas.

“Meu sonho era de trabalhar com perfumaria, né? Mas não deu. Eu fui até a Praça João Mendes, tem uma casa. ver lá o material. Depois fui ficando doente e não teve mais condições de fazer nada. Então, eu tô feliz, porque agora veio nas minhas mão pra eu fazer, né? Com todas as. Hoje, eu tô contente, porque veio os perfumes, que era justamente o meu sonho. Que. Eu tenho três pés de jasmim. Dois no quintal e um no jardim. De Duas qualidade, um que trás frutinha branca e outra que uns tendão grande assim, que fica tudo branquinho de jasmim. Então a gente tem que ter sempre uma coisa com a flor se a gente sonha, quer né? Ele é muito bem vindo o jasmim, pra mim”.
“Quando vi aquela casinha de barro que tinha taboca. Minha mãe morava em uma igualzinha numa casinha dessa. Mas é tão gostoso, ter trazido o filme para agente lembrar do tempo que moramos na fazenda, mesmo o chão, pó, a gente... Só que a noite é aquele breu. Escuridão. Aquele passarinho que cantou ai é curiangos. Todos os dias ele cantava. Mas que apesar de tudo sou feliz”.

“Não paramos nunca para ouvir e ver como a natureza é bonita. Hoje percebo que muitas vezes não dei atenção ao que estava a minha volta, o valor e a beleza desses cantos, sons maravilhosos os que a natureza nos dá”.
As cenas que o filme transmitia, a mágica da poesia e da música favoreceram a comunicação, fazem aquilo que as palavras nem sempre conseguem por muitas vezes, que foi o comunicar. As Oficinas possibilitaram que as idosas percebessem a si mesma, e ao outro através dos depoimentos ou através do próprio silencio.
Na atividade em que passamos um filme, este claramente ativou-lhes a imaginação e concentração, constituindo-se em verdadeira mensagem na dinâmica do pensamento das idosas, suas fantasias, experiências passadas relacionando com o passado o presente no aqui e agora.


Essa percepção mental que as idosas tiveram, demonstrou a sua capacidade de captar o que não estava na superfície aparente dos fatos, mas na essência dos fatos. Pois, emergiram as carências, conflitos, emoções, sentimentos e lembranças. Isso foi percebido nesta Oficina no momento dos depoimentos e também na excitação pelo que seria feito na próxima atividade.

“Lembro o tempo que eu dançava”.
“Daquele outro? Aquele eu não gostei muito, não? Eu falo a verdade. Ah! Não sei. Meu tempo, quando eu era solteira. Eu gosto”.
“Eu lembrava do tempo quando era jovem, que tinha uma pracinha no meio da cidade. Que os domingos a gente se reunia os colegas, todo mundo na pracinha, né. Era gostoso, viu. E lembrei também daquele lago, quando fui junto com o meu filho. Nois ia passear lá”.

Minha experiência e observação nos depoimentos dados pelas idosas mudou a minha visão sobre o que era criar uma Oficina. No inicio só tinha em minhas mãos a teoria. Após colocar em prática dei conta que a realidade é outra, que nem tudo que é planejado acontece do modo que esperava. Além disso, não é como na teoria em que parece ser fácil dar conta de tudo o que pode ocorrer em uma Oficina, pois, estamos lidando com indivíduos que possuem cada um sua subjetividade e individualidade.


Conforme experiência percebi que o clima informal propiciado pelas Oficinas era básico para a geração da reflexão e o emergir dos conflitos, que traduzem a procura de um clima acolhedor com liberdade para todos os integrantes, favorecendo que pessoas inibidas falassem e explorassem suas experiências de vida.
Nas Oficinas, observei que nós futuro psicólogo além de ter uma visão teórica precisa trabalhar com a emoção, pois assim se aproxima dos indivíduos e estabelece uma ética de respeito em momentos que está dedicado ao processo de crescimento e mudança.


Segundo Schmidt e Ostronoff (Morato, 1999, p. 336), o psicólogo, ou o Oficineiro, tem a função de facilitador, para quem o fundamento de sua atuação reside na atitude centrada na relação com o outro, o grupo e as pessoas que dele participam. Colocando-se como especialista, o facilitador é alguém que se oferece de maneira atenta, autêntica e respeitosa a conviver com o outro para que este possa, em liberdade, experiênciar-se e compartilhar essa experiência.
Em uma das Oficinas um fato inédito surgiu, quando uma das idosas sofreu um acidente durante a noite e não foi devidamente socorrida. Este acidente provocou no grupo, no momento da atividade, uma transferência, ligando o sofrimento num processo de agitação interna, vindo ao encontro com os interesses individuais e busca de afinidades, conflitando com os interesses de outros participantes do grupo. Notei que algumas das participantes estavam contaminadas com o que tinha ocorrido com a colega, e isto as levou a uma projeção e uma identificação no grupo.

 

“Estou feliz, porque vocês são especiais, não tem nojo da gente. Por isso que falo, isso é uma coisa minha. Minha perna dói eu já estava andando tão bem, ia ao banheiro sozinha, agora estou com medo de cair, parece que de uma hora para outra a coisa piorou”.

“Estou com muita dor de cabeça, caí olha o galo”.
“Então deixo falar uma coisa ficou triste também? Né. Eu sei como é que é. Fica triste mesmo. O coração da gente não é. A gente vê uma coisa assim, né. A gente fica com o coração apertado. Né”.

Supomos que a Oficina neste dia propiciou que as idosas vivenciassem um sentimento que antes era desconhecido, e que foi traduzido como ameaçador sentindo-se desamparadas.
Ao perceberem essas emoções dolorosas, reconhecidas como destrutivas, as idosas puderam colocar para fora suas angustias e frustrações diante do fato ocorrido, que foi interpretado como ruim, mas ao mesmo tempo, elas se sentiram seguras como um grupo, pois puderam internalizar seus medos, rancores e assim modificar durante este período, ao falar das regras e normas estabelecidas e que estavam subordinadas. Ao reagirem e falarem a respeito surgiu novos meios para enfrentá-las, remetendo-as a possíveis transformações.

“Naquele buraco não gostaria de ser enterrada, pois tenho muito medo da morte. O que gostaria mesmo é de morrer na floresta. Não ficar sozinha, porque tenho medo”.
Quando o anu pousa na copa da árvore, boa notícia não chegam. Podemos esperar a morte na certa. Ele nunca falha e traz sempre notícia ruim ““.

Acredito que isto significou para elas como podem enfrentar os problemas existenciais e a conquista de uma adaptação à realidade. Quanto a mim, entendo que isso foi uma oportunidade para elas extravasarem seus anseios, temores, conflitos da vida, enfim uma possibilidade de trabalhar os sentimentos beneficiando o indivíduo ou o grupo.
Nesta vivência supomos que o grupo foi possuidor de vida própria e única, onde cada componente é um ser repleto de experiência, sentimentos e conhecimentos e valores, mas atendendo a finalidade do grupo e não como algo que era só seu individual. Houve um interesse especifico e comum a todos os membros do grupo de explorar e discutir as idéias voltadas ao interesse e necessidade do grupo naquele momento.


“Pintura seria em tecido é isso”.

“Pintura eu não sei fazer. Não vou falar mentira eu não sei fazer. Ë mais minha vista não dá. A gente inventa outra coisa”.
“Eu concordo com a opinião dela. Ela vai fazer?”.
“Eu gosto do Roberto Carlos. Qualquer uma”.

“Eu gosto do filme do Mazzaropi”
 

Todo o grupo de participantes das oficinas, inclusive eu, aprendi que precisamos respeitar a singularidade de cada pessoa. Essas observações e vivências das oficinas promoveram a reflexão de que devemos ter resistência à frustração para aceitar e acolher o outro como ele se apresenta, e não de acordo com quaisquer expectativas. Por meio da fala, dos gestos, das emoções emanadas durante a Oficina surgiram, às vezes, cenas de ciúmes entre as idosas. Foram percebidos e valorizados os aspectos saudáveis, considerando as possibilidades e recursos de cada um.

“Eu vou pra casa. Quer fazer o favor de ficar quietinha”.
“Minha vida era só chorar por causa desse filho. Aí como ela chegava de manhã cedo lá todo dia, dez hora tinha um cafezinho, depois do nosso café, nós conversa ia lá ver a gente viu. Mas era feito uma mãe. Aí ela levava um pãozinho ou uma bolacha, porque ela cozinhava aí ela tirava um pedacinho dava na mão de cada um viu”.
“Calma eu vou chegar. Eu estou chegando”.
“Ai, vai perder, deixa ai na sua mão”.

Entendi que a história de cada idosa era reveladora de como a vida é construída e de como é importante essa revelação, dando um significado a cada característica e redescobrindo caminhos que foram construindo ao longo da vida - sua família, sua cultura -, mas relembrados por alguém que respeita o seu modo de pensar e agir.
A memória para o idoso vem carregada das lembranças do passado, familiar e do universos de pessoas com que se relacionaram, e das lembranças criadas na própria mente, isto é de lembranças que foram impregnadas de mitos e que transformam a realidade em outra realidade, a sentida e imaginada. Segundo Bosi (2003, p. 60), o idoso ao lembrar do passado não está parado descansando ou deixando seu imaginário ao sonho, ele está se ocupando conscientemente e atentamente do próprio passado, da substânciade sua vida.

 

“... meu pai, minha mãe. é muito pessoal. Não gosto de falar. Mas já morreu todinho. Não tenho pai, não tenho mãe. Meu pai morrido”.

“Meu primeiro namorado, pegava ele para dançar todos os fins de semana. Ele falou em casar, comprou a aliança pra mim. Fiz a besteira da mulher. e aí acabou com ele. A aliança deixei lá no armário”.

“Hoje dependo dos outros para fazer tudo, isso incomoda muito, pois, as pessoas não têm paciência. Não consigo andar, as pernas estão fracas”.

Algumas idosas ao serem solicitadas para opinar sobre as próximas atividades demonstravam capacidade de gerir, criar dentro do contexto da sua própria vida, opinar com independência, autonomia pessoal, este foi um ganho que puderam adquirir das atividades de Oficina.
A Oficina proporcionou às idosas um novo contato, uma maior aproximação, muitas vezes encontros se desgastaram na polarização de posições, opiniões diferentes, mas foram considerados movimentos comuns que teoricamente são presentes na dinâmica da Oficina.
As Oficinas acabaram envolvendo a todos com a relação de ajuda, no sentido de possibilitar às idosas a construção de si próprio e do seu saber. As atividades estavam sempre focando a interação e integração, levando-as ao fortalecimento da auto-estima. Ao ser relatada a história de vida, as idosas identificavam-se a si e às outras.
O interessante manifestou-se nas reações que iam surgindo, imediatas ou não. Expressavam-se de diversas formas, e de acordo com suas possibilidades. Algumas diziam “esses são os nomes dos meus pais”, outras, em silêncio, percebíamos os olhos cheios de lágrimas, outras batiam palmas, outras davam gargalhadas ao serem citadas devido algumas características que foram relatados.

“É minha mãe. Meu pai é o Benedito”. Meu pai e minha mãe eram amigos.”“.
“Eu queria ouvir a minha mais uma vez”.

Também achamos importante ressaltar o interesse que as idosas tiveram tanto em escolher as próximas atividades quanto dar continuidade no processo das Oficinas. Mostraram-se comprometidas com o nosso trabalho, deram opiniões, sugeriram o que mais gostavam e foram sinceras quando não tinham interesse em alguma atividade levantada.
A Oficina ofereceu a estas idosas a estimulação da memória, apesar de possuírem enfermidades e incapacidades. Conforme elas resgatavam o seu passado, estimulando a sua memória, conversavam bastante, trocavam experiências, ou seja, compartilhavam aspectos que marcaram a sua vida. Elas puderam reviver naqueles momentos suas lembranças mais significativas. Acredito que através de suas falas, elas puderam reorganizar suas lembranças, integrando o seu passado ao presente. E também tiveram um maior conhecimento das outras, possibilitando uma ampliação de suas experiências.
No âmbito global pode-se dizer que tive expectativa ao iniciar a Oficina quanto à participação criativa, mediante a apresentação de música, poesia e filmes, pude descobrir o que encobre a criatividade do ser humano ao ficar idoso. Porém, minha experiência com a Oficina foi muito maior, pude perceber, que a falta de criatividade é somente uma ilusão que o ser humano em idade produtiva julga acontecer com o ser humano velho.
A criatividade está sempre presente, ela parece bloqueada por muitas vezes, porém, não está bloqueada, somente um pouco inibida por fatores próprios da idade, como as dificuldades de locomoção, doenças degenerativas, os problemas de memória e esquecimento, e as mais diversas dificuldades que o desgaste físico apresenta.
Mas, no momento em que lhes ofereci a oportunidade de fazer aflorar novamente o processo criativo, as idosas passaram a responder prontamente as atividades, claro que existem fatores inibidores para algumas, mas na grande maioria todas mostraram-se muito criativas.
            Minha experiência era que meu trabalho pudesse ser difícil, pelas dificuldades expostas, mas quando presenciei e experimentei a prática das Oficinas percebi que não é difícil, talvez trabalhoso, exigindo paciência e resignação, porém, ao final é bastante gratificante e não desgastante como previ.
            Cupertino, (2001, p. 17), o trabalho psicológico é carregado de particularidades que exigem do profissional um estado constante de atenção, simultaneamente endereçada a ouvir o outro e, ao mesmo tempo, a si mesmo. Permitir que os sentidos possíveis escoem das experiências vividas, de ambas as partes, é o que dá contorno àquilo que faz parte do conteúdo teórico-prático profissional. Nem tudo que a teoria diz aparece na prática, e nem o que é vivenciado na atuação é coberto por conceituação teórica precisa.
Apesar de ser quase profissional, ainda tinha a impressão impregnada que o idoso era uma pessoa impossibilitada de reagir à realidade devido às suas deficiências, ao tornar a experiência uma realidade, vi que são pessoas comuns desgastados pela idade, mas com a mesma emoção criativa de continuar a viver, basta ser aflorada.
            Quando estamos nos aplicando nos estudos de Psicologia, conhecemos uma realidade teórica, distanciada da prática, claro que a teoria baseia-se na prática do atendimento, mas em um âmbito maior, o cotidiano é muito difícil de ser retratado pela teoria.
            Não se pode atuar na prática sem a teoria e muito menos ser psicólogo teórico que não vivencia a prática. Ser psicólogo hoje, para mim, após os estágio que realizei e à aplicação das Oficinas especificamente é ter uma visão dialética do mundo onde teoria e prática não se desvinculam, são um só momento.
            Nosso papel como profissionais de psicologia dentro de uma Oficina é fazer com que todos os participantes acreditem em suas capacidade como co-criadores de suas próprias vidas, e as modelem para corresponder aos anseios íntimos e talentos.
            A Oficina em instituição para idosos para mim foi de suma importância, promovendo a exploração da criatividade adormecida pela rotina de suas vidas. A Oficina promoveu, em mim, futuro profissional uma transformação e uma nova visão sobre o universo das pessoas e da forma como posso atuar.
            Quanto às idosas, no cotidiano de uma instituição acabam por perder a curiosidade, e a capacidade de criar, pois todos os acontecimentos rotineiro não geram novas idéias, e por isso não que nutrem mais seu lado criativo. Acredito que durante o tempo em que atuei na Oficina, pude promover algumas modificações na rotina do dia-a-dia, pelo menos um dia da semana às idosas participantes, que passaram a ter algo novo, ou uma forma nova para pensar e para criar.
            Assim, aprendi durante esse processo de ensino acadêmico e após a aplicação do projeto de pesquisa de Oficina de Criatividade, que o que coloquei em prática foi uma atividade, que poderia ser colocada também em prática por uma voluntária, enfermeira, porém, nosso trabalho teve um diferencial, que foi o de poder atuar com os idosos, não frente a sua inserção social ou o entendimento de seu desgaste físico, mas despertando uma criatividade latente, mas encoberta, transformando comportamentos e reformatando habilidades, já deixadas de lado por causa diversas, como o próprio abandono na instituição.
            A instituição de abrigo ao idoso é um ótimo lugar para a aplicação de Oficinas, pois a atividades das Oficinas realizadas, mostrou que estas são viáveis como veículo de interação entre os idosos e na compreensão geral da realidade de idosos institucionalizados, bem como do individual de cada idosos.
            Minha experiência e observação nos depoimentos dados pelas idosas mudou a minha visão sobre o que era criar uma Oficina. No início só tinha em mãos a teoria. Após a colocar em prática dei conta que a realidade é outra, que nem tudo que é planejado acontece do modo que esperava. Além disso, não é como na teoria em que parece ser fácil dar conta de tudo o que pode ocorrer em uma Oficina, pois, estava lidando com indivíduos que possuem cada um sua subjetividade e individualidade.
            Em minha experiência percebi que o clima informal propiciado pelas Oficinas é básico para a geração da reflexão e o emergir dos conflitos, que traduzem a procura de um clima acolhedor com liberdade para todos os integrantes, favorecendo que pessoas inibidas falem e exponham suas experiências de vida.
            Nas Oficinas, observei que o psicólogo além de ter uma visão teórica precisa trabalhar com a emoção, pois assim se aproxima do indivíduos e estabelece uma ética de respeito em momentos que está dedicado ao processo de crescimento e mudança.
            Todo o grupo de participantes das Oficinas, inclusive eu, aprendemos que precisamos respeitar a singularidade de cada pessoa. Essas observações e vivências das Oficinas promovem a reflexão de que devemos ter resistência à frustração para aceitar e acolher o outro como ele se apresenta, e não de acordo com quaisquer expectativas.
Por meio da fala, dos gestos, das emoções emanadas durante as Oficinas entendi que a história de cada idosa é reveladora de como a vida é construída e como é importante essa revelação, dando um significado a cada característica e redescobrindo caminhos que foram construindo ao longo da vida – sua família, sua cultura -, mas relembrados por alguém que respeita o seu modo de pensar e agir.
            Também achei importante ressaltar o interesse que as idosas tiveram tanto em escolher as próximas atividades quanto dar continuidade no processo das Oficinas. Mostraram-se comprometidas com o meu trabalho, deram opiniões, sugeriram o que mais gostavam e foram sinceras quando não tinham interesse em alguma atividade levantada.
As Oficinas foram riquíssimas, com grande crescimento tanto emocional como na compreensão do outro. Abaixo descreveremos resumidamente as 08 atividades realizadas.

Primeira Atividade
Data 12/08/03.
Chegamos à instituição às 13h30minutos. Iniciamos a atividade de Oficina por volta das 14h15 minutos e a finalizamos às 15h30 minutos.
Depois explicamos como seria a atividade de Oficina de Criatividade. Dissemos que o intuito naquele momento era de ouvirmos várias músicas escolhidas por elas e que depois cada uma poderia pegar um objeto que identificasse com sua história.
Aquelas que quisessem e que gostariam de dar seu depoimento poderiam falar sobre o que sentiram, imaginaram, e suas emoções. Quais os sentimentos que foram emergindo durante as músicas. Dissemos que ficaria a critérios dos participantes dar depoimento ou não. Ressaltamos que quem soubesse poderia cantar, dançar, bater palmas, com o intuito de interação e descontração.
Talvez por se a primeira dinâmica realizada, isto tenha extrapolado todos os sentimentos, em contato com algo diferente, novo. As emoções, sentimentos iam aos poucos sendo demonstrados por elas conforme as músicas iam tocando.
As lembranças de suas juventudes, sua infância, lembranças daqueles que já foram, os momentos felizes, alegres como também os momentos difíceis que vivenciaram ao longo de suas experiências passadas, contadas por elas durante ou após as atividades.
Ao término da atividade, as idosas foram convidadas a dar seus depoimentos, conforme transcrições das fitas. Assim que terminaram os depoimentos colocamos uma música para relaxamento durante cinco minutos. Em seguida, as auxiliares vieram buscá-las para tomar o lanche da tarde.
A nossa proposta nesta atividade contou com dois objetivos: o primeiro objetivo foi colocá-las em circulo, pois segundo Goberstein, (200, p. 41 1 46), O círculo é uma forma geométrica, que simboliza a perfeição e a plenitude que o ser humano busca atingir. Na circunferência há infinitos pontos que distam igualmente do centro. Todos os pontos – ou as pessoas que neles se encontram voltadas para o centro têm a visão dos demais e da roda toda, e todos são igualmente importante na composição da forma final que é o círculo. Este contém o vazio que, ao mesmo tempo em que garante a distância entre as pessoas, é o vazio através do qual elas estão unidas e de onde pode emergir a variação feita por todos. Apenas compor a circunferência da roda já se constitui numa criação, num espaço diferenciado e, muitas vezes, sagrado.
O segundo objetivo foi colocá-las em contato com a música de sua época, para que pudesse reavivar nelas o seu sentido existencial. A consciência e a importância de suas raízes e culturas se fizeram presente naquele momento como uma revelação de quem eram elas. Essa inserção e tomada de consciência de suas histórias, foram naquele instante como fhashes de lembranças de suas vidas.
Por se a nossa primeira atividade de Oficina de Criatividade encontramos algumas variáveis que nomeamos num primeiro momento de: dificuldades.
Dificuldade de realização das atividades com o grupo com 20 idosas.
Dificuldade em dar atenção a todos.
Organização: troca de CD, fotos, gravações, depoimentos, solicitações pelas idosas para ir ao banheiro, tomar água.
Outras “carência, pedido de atenção para com elas, parar a atividade para chamar a enfermeira para ajeitar algumas idosas nas cadeiras de rodas”.
Dificuldades de algumas idosas de entender o objetivo da atividade.
Interação grupal: mesmo com as dificuldades entre si algumas interagiram de forma participativa.
Foram utilizados para essa atividade dois gravadores, uma máquina fotográfica, um rádio com CD, vários discos. Os objetos utilizados durante a atividade foram: pulseira, relógio, rádio, despertador, lenço, sombrinha, batom, porta-retrato etc. Esses objetos foram colocados em cima de uma mesa para melhor visualização dos participantes. 


Segunda Atividade.
Data: 21/08/03
Chegamos à instituição por volta das 12h30 minutos. Nos deparamos com algo inesperado, pois havíamos ligado para a instituição e tinham nos dito que havia um vídeo. A coordenadora foi informada de que não conseguimos passar o filme, pois, o vídeo estava com defeito.
A nossa proposta neste atendimento era fazer uma atividade na qual as idosas assistiriam a um filme escolhido anteriormente por ela, O filme tratava da história de um jardineiro que trabalhava numa escola e lá se apaixona por uma estudante. É um filme que mostra as diferenças socioeconômicas e culturais, e a aceitação dos indivíduos e formas de existência pelo outro.
Nesse dia não foi possível realizarmos a atividade proposta, usamos de nossa criatividade, colocamos um CD “Aves da Amazônia”, com o objetivo de trabalhar com a reativação da memória, audição, concentração.
Todas as idosas que participaram dessa atividade ouviram com muita atenção. Algumas das idosas fecharam os olhos, outras abaixaram, como para ouvir bem mais próximo.Algumas comentavam sobre o pássaro e diziam que era da região em que haviam nascido, e que, quando eram crianças, ouviam os pássaros cantarem e ao entardecer, viam as revoadas deles ao voltarem para sua casa.
Apesar de criarmos uma atividade sem uma pesquisa anterior, sem definirmos um objetivo, ela foi atendida naquele momento. fazendo com que elas pudessem, de uma maneira ou de outra, trabalhar a memória e a concentração. Após a realização da atividade registramos os depoimentos.

 

Terceira Atividade
Data: 26/08/03
A atividade teve início às 14h15 e terminou às 16h30.
Esta atividade teve o intuito de resgatar sua identidade social e cultural, como também a experiência ao saírem de sua terra natal em busca de um futuro melhor na capital. Quais foram suas experiências e frustrações encontradas no percurso dessa aventura no decorrer de sua vida, além de expressarem, verbalmente ou não, as emoções no decorrer do filme.
O filme é uma história de Mazzaropi, “A Banda das Velhas Virgens” com Geny Prado e Renato Restier. É um filme que mostra as diferenças sócio-econômicas e culturais; o êxodo rural e a aceitação dos indivíduos de existência pelo outro.
Pretendemos também garantir um espaço para o desenvolvimento pessoal e social, permitindo uma criatividade que fluiria mais livremente de acordo com sua experiência de vida, o resgate da história pessoal, revivendo sua memória, e ainda a possibilidade de uma nova visão de si para o presente, fazendo uma reflexão do momento no qual estão vivendo atualmente.
Os depoimentos ficaram livres para que emergissem fatos que estão relacionados às suas vidas.      
Segundo Cupertino (2001, p.p. 62 a 67), os filmes são um excelente veículo para discussão e dos critérios de normalidade e de aceitação dos indivíduos e formas de existência pelos outros. Por serem de caráter fantástico, os filmes mostram os problemas da diferença. Aqueles que são diferentes muitas vezes são marginalizados, pois a sociedade exige que sejamos perfeitos, caso contrario somos excluídos. Esses idosos estão sofrendo as conseqüências dessa sociedade que os marginaliza, excluindo-os do convívio social e da própria família muitas vezes, pois estão contaminados também por essa sociedade imediatista.
Essa experiência de Oficina de Criatividade está estimulando o prazer de resgatar a memória e a necessidade de falar de si e de suas experiências. A Oficina está criando um espaço para que resgate tanto a comunicação oral como outras percepções, e também o contato social, ou seja, uma reapropriação da memória individual ou do grupo. Os depoimentos de cada um, sua história pessoal deixam transparecer as lembranças do passado pulsando em sua memória, nos gestos, fantasias, adormecidas.
Segundo Rogers, a pessoa restabelece seu processo de crescimento num fluir natural, há necessidade de “um clima de calor e compreensão autêntico: e não tanto de conhecimento ou habilidades. Ajuda no processo de crescimento, é mais uma atitude verdadeira, disponível de consideração, compreensão. Essa seria a condição básica, necessária e suficiente, na relação de ajuda. Saber ouvir e aceitar a complexidade dos seus sentimentos, sem receio, maior será o seu graus de congruência ( Rogers, 1976, p.64)”
A Oficina proporciona alguns momentos onde refletem, expõem suas idéias. Terminando as atividades voltam ao mesmo mundo, a mesma regra, horário, rotina. Muitos relegam o seu próprio lugar. A Oficina cria esse espaço, permiti naquele momento esquecer o contexto geral. Adaptá-los seria uma forma de buscar o novo, mudando esse cotidiano, já que não são como no passado.


Quarta Atividade
Data: 02/09/03
Chegamos à instituição por volta das 12h30. Iniciamos nossa atividade às 13h45 e terminamos às 15h00
Nesta Oficina de Criatividade nossa proposta era saber se a Sra Hirma (residente e professora na instituição), gostaria de declamar uma poesia para suas colegas, que foi antecipadamente conversado e marcado. Sra. Hirma ficou lisonjeada com o convite e que poderia com o máximo prazer, porque essa semana não teria que dar aula de reforço e estaria com as tardes livres.
Sra. Hirma declamou uma poesia de Machado de Assis. Após a declamação, foi lida outra poesia”A casa”, de Vinicius de Morais.Várias leituras foram feitas, pausadamente para que as idosas entendessem e ouvissem bem a letra. Em seguida, foi solicitada que completassem a frase, assim que parasse a leitura. Por exemplo: Era uma casa muito engraçada. Não tinha... Não tinha...E assim sucessivamente.
No final da atividade, as idosas escolheriam alguns objetos espalhados sobre a mesa no centro da sala, com o objetivo de identificar o objeto com seu modo de ser. Foi perguntado qual objeto ela colocaria dentro da casa.
O objetivo é desenvolver no grupo a interação, o respeito e o carinho pelo outro, como também trabalhar a memorização, percepção, audição e suas expressões, verbais ou não.
A poesia resgata as experiências e também a interação compartilhada com o grupo mostrando o seu lado criativo, sua personalidade.A poesia trabalha tanto a socialização, comunicação grupal, como mudam seu comportamento e seus sentimentos.
Segundo Souza, (http:www.abbravili.com/001teoria.literaria.) a poesia significa muita mais que música, dança. É a forma de expressão que representa o elo entre o tempo de hoje e um tempo que só existe na memória dos mais velhos. Tempo em que a poesia seria o veículo pelo qual comunicam o mundo exterior a sua emoção, sentimento interior daquele que a declamam, a busca de reconhecimento de sua singularidade. Pela poesia esse tempo é percebido, pois é a forma especial de sua linguagem mais dirigida à imaginação, à sensibilidade, do que ao raciocínio. A poesia em si transmite informação mas, sobretudo, emoção.
Nosso objetivo foi alcançado, pois, algumas idosas se lembraram das poesias da época de sua infância e declamaram para todas ouvirem. Algumas ficaram inibidas, começando a rir, outras diziam que não conseguiram lembrar mais e que tinha dificuldade para guardar as coisas, que liam, mas logo esqueciam.
Os depoimentos demonstraram que algumas das idosas, além de escolherem os objetos para colocarem em seus quartos, eles tinham um valor, um significado para elas.
Aos poucos, a Oficina vem modificando comportamentos. Enquanto eram trazidas do refeitório para a sala de TV, observamos que estavam conversando umas com as outras. Antes, elas se sentavam, apáticas, não conversavam, ficavam ali esperando sem saber o quê. Hoje, não.


Quinta Atividade
Data: 09/09/03
Chegamos à instituição às 13h30. Iniciamos a atividade de Oficina de Criatividade por volta das 14h15 e a finalizamos às 16h30. Participaram 18 idosas. Nossa proposta foi: “Expressão de Amizade”.  
Organizamos os participantes para forma um círculo, pois, simboliza a perfeição e a plenitude que o ser humano busca atingir. Na circunferência há pontos infinitos que distam igualmente do centro. E todos têm visão dos demais e da roda toda, e todos são igualmente importantes na composição da forma final que é o círculo.
Essa atividade propôs o seguinte”Pergunta-se quem gostaria de iniciar a atividade de Oficina. Em seguida, a pessoa dirá àquela que estiver ao seu lado direito: “Amo a minha amiga...Porque é...” . O seguinte deve dizer. “Amo minha amiga. porque é.”(ou qualquer adjetivo).
Após todas falarem foi colocada uma música sobre o tema “amigo”. Escolhemos uma música de Milton Nascimento, Canção da América. Esta atividade de Oficina de Criatividade consiste a expressão de amizade, a música faz com que ultrapassem, seus limites, facilita ao grupo a entrega, pois consta de toda semana uma surpresa, não sabem o que vamos fazer e o que vai acontecer. Isso facilita a que as emoções aflorem a cada atividade.
Esta atividade teve como objetivo superar o impasse que cada um tem quanto à sua capacidade emocional, libertá-los pela imaginação. Não a arte pela arte, mas a arte pela vida. Ela existe sempre que os sentidos naturais se expressam livremente nas multiformas, permitindo o envolvimento na criação do nosso ser e do mundo.

Segundo Nachmanovitch (p.169), “A livre expressão da criatividade não é a capacidade de manipular arbitrariamente a vida. É a capacidade de viver a vida como ela é. A experiência é um reflexo do ser, que é beleza e consciência, autocontrole. É a livre expressão que torna essa experiência acessível ao individuo. O objetivo da liberdade é a criatividade humana, a intensificação e a elaboração da vida”.

A Oficina nesta atividade perdeu um pouco sua essência, pois foi interrompida, isso fez com que dispersassem seus pensamentos. Porém, o objetivo foi que refletissem a importância da amizade e o fortalecimento do grupo, compartilhando com as outras os momentos de solidão, tristeza.
Esta atividade facilita a imaginação, pois é ativada a fantasia, o sonhar, a capacidade de captar o que não está na superfície aparente dos fatos, da verbalização, proporcionando aos idosos suprir suas situações de carência ou conflito respeitando sua individualidade
Na Oficina, apesar de falarmos de um amigo, da importância da amizade, relato sobre a morte também foi conversado e exposto. Isso nos faz pensar quando Heidegger (1998, págs 31 a 51) diz que “a morte ocorre através da morte de outro”. Como a morte faz parte da nossa vida, ela tem a condição de determinar a existência, o fim de seus devaneios, planos e ilusões.

Sexta Atividade
Data: 16/09/03
Chegamos ao asilo por volta das 13h00. Iniciamos nossa atividade às 13h45 e terminamos às 15h15 e saímos às 16h30.
Participaram 15 idosas, do início ao fim; no meio da atividade chegaram mais duas idosas.
Neste encontro nossa proposta foi trabalhar “Aromas”( Terapia para a alma).
O Objetivo da proposta era observar o efeito que cada aroma propiciava, o que faria sentir. Foram utilizados os seguinte aromas: laranjeira, jasmim, erva-doce, tuti-fruti.
Segundo Ayan (2001), o aroma estimula diretamente uma área do cérebro – o sistema límbico – responsável por nossas emoções e lembranças mais primitivas. Conseqüentemente, um único aroma é capaz de resgatar uma porção de emoções e fazer com que lembremos de coisas de nossos primeiros anos de idade.
A proposta foi que cada idosa, depois que sentir o cheiro de cada uma das essências, escolhesse uma delas e fizesse o próprio perfume. Esse contato facilita uma fluidez mental que o aroma propicia, a percepção sensorial, atraindo o espírito criativo.
Segundo Rogers (apud Kneller, 1978, 51 a 53), criar é a capacidade de responder às coisas, tais como elas são, em vez de o fazer mediante as categorias convencionais. Isso implica flexibilidade nas crenças da pessoa e em suas percepções, bem como tolerância em face da ambigüidade, sem forçar interpretações. Portanto criar denota certo tipo de comportamento, características como intuição e espontaneidade, como a obra de criar a auto-realização.
A partir da observação da atividade e dos depoimentos ficou claro o quanto às idosas puderam resgatar lembranças passadas e verbalizá-las através da emanação das essências. Isso pode fazer com que elas pudessem reviver experiências passadas e trazê-las para o aqui e agora. Além disso, elas tiveram a possibilidade de criar algo que é só seu.
Segundo Naffah (1982, pp. 84-85), “O contato é o experimentar é viver essas experiências esse novo, na energização, na fluidez, na disponibilidade, abertura no ritmo e na discriminação”.


Sétima Atividade
Data: 23/09/03
Chegamos ao asilo às 12h45, iniciamos nossa atividade às 13h30; terminamos às 15h00 e saímos às 16h37. Participaram 15 idosas nesta atividade de Oficina.
Proposta: “Volta ao Passado, um dia Especial”.
A escolha dessa atividade deveu-se à pluralidade e sentido da interação e integração dos idosos com que estamos trabalhando, dando sentido a sua vida passada, revivendo no aqui e agora, suas experiências, suas recordações e lembranças. Foi solicitado que as idosas contassem para nós e suas colegas receitas que faziam para seus filhos, netos, ou que suas mães e avós faziam para elas.
O objetivo: “Resgatar a memória e as lembranças das gerações passadas”. Depois dos seus depoimentos, seriam discutidas as receitas que gostariam de experimentar, pois no próximo encontro, conforme autorização da coordenadora (Cida) e a ajuda da cozinheira, seria feito um almoço com as receitas escolhidas por elas. Foram gravadas e anotadas algumas receitas que as idosas recordaram e falaram conforme transcrição das fitas.
Por meio dessa atividade puderam elevar a auto-estima e assumir um lugar privilegiado, resgatando nas usas memórias nada mais nada menos que o elaborar nelas essa peculiaridade especial da aptidão do sabor, do experimentar, do inventar, surgindo novas receitas que poderão ser acrescentadas no cardápio.
Como também valorizar o processo de envelhecimento pela arte culinária, quando o idoso deverá incorporar novas formas de percepção e ação de ser e viver, resgatando o potencial criativo, propiciando o desenvolvimento e a capacidade adaptativa ou inovadora, dando forma à potencialidade inibida, criando elos com a vida. 
A Oficina oferece ao idoso a estimulação da memória, apesar da enfermidade, perceberam que poderiam contribuir de alguma forma. As idosas comentavam entre elas como preparar os pratos, davam dicas de panelas, temperos que poderiam dar uns sabores especiais aos molhos, doces etc.


Oitava Atividade.
Data: 29/09/03
Chegamos ao asilo por volta das 11h30, fomos convidadas para ver a comida: o quibe e a farofa estavam prontos, o molho; o cheiro estava muito bom. Agradecemos a colaboração da cozinheira, pois se não fosse por ela, ajudando e participando de toda a movimentação, como também as voluntárias que deixaram seus afazeres, colocando-se à disposição, não seria possível proporcionar essa atividade.
Após o almoço iniciamos nossa atividade às 13h15 e terminamos às 15h20, saímos da instituição às 16h30. A nossa proposta nesta Oficina foi contar a história de vida de cada idosa, por meio de dados obtidos durante nossa observação na instituição. Foram coletados durante esse dois meses de observação: dados de sua identidade, data de nascimento e algumas características.
Contar histórias é a mais antiga das artes. Elas são fontes maravilhosas de experiências. São meios de ampliar o horizonte e aumentar o conhecimento em relação ao mundo que o cerca. É através do prazer ou emoções que as histórias lhes proporcionam que o simbolismo, implícito nas tramas e personagens, vai agir em seu inconsciente.
 Os significados simbólicos dos contos estão ligados aos eternos dilemas que o homem enfrenta ao longo de seu amadurecimento emocional, quando se dá a evolução, a passagem do eu para nós. A literatura, então, podem ser decisivas na percepção que a pessoa tem em relação a si mesma e ao mundo a sua volta.
No início foi contada uma história, feita por nós, sobre o ciclo da vida e de como encarar a velhice com naturalidade. Depois foi relatada a história. Na seqüência, foi escolhido um poema do livro: “Cada pessoa tem um anjo”do autor Anselm Grüm: Tradução de Carlos Almeida Pereira – Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
Ficou em aberto no final da atividade para que as idosas pudessem falar, ou dar seus depoimentos.
Essa atividade teve como objetivo fazer com que as idosas percebam através da história contada, quem eram as pessoas. Isso possibilita a reflexão diante do outro, facilitando uma recapitulação de sua vida, através do tempo, propiciando a interação do grupo e a identificação no decorrer da história, relatada por uma das estagiária.
Por meio da fala, dos gestos, das emoções emanadas durante a Oficina surgiram, às vezes, cenas de ciúmes entre as idosas. Foram percebidos e valorizados os aspectos, considerando as possibilidades e recursos de cada um.
A Oficina, de certa forma, acaba envolvendo a todos com a relação de ajuda, no sentido de possibilitar às idosas a construção de si próprio e do seu saber. As atividades estavam sempre focando a interação e integração, levando-as ao fortalecimento da auto-estima.
Minha experiência e observação nos depoimentos dados pelas idosas mudou minha visão sobre o que era criar uma Oficina. No início só tinha em minhas mãos a teoria. Após a colocar em prática me dei conta que a realidade é outra, que nem tudo que foi planejado aconteceu do modo que esperava, pois, estava lidando com individuo que possuem cada um sua subjetividade e individualidade.
Em minha experiência percebi que o clima informal propiciado pelas Oficinas é básico para a geração da reflexão e o emergir dos conflitos, que traduzem a procura de um clima acolhedor com liberdade para todos os integrantes, favorecendo que pessoas inibidas falem e exponham suas experiências de vida.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando iniciamos nossa pesquisa sobre a aplicação de Oficinas de Criatividade junto a idosas institucionalizadas, tínhamos como expectativa uma participação criativa, onde, mediante a apresentação de música, poesia e filmes, pudéssemos descobrir o que encobria a criatividade do ser humano ao ficar idoso.
 Porém, nossa experiência com a aplicação da Oficina foi muito maior, pudemos perceber, que a falta de criatividade é somente uma ilusão que o era humano em idade produtiva julga acontecer com o ser humano velho.
Nossas expectativas eram que nosso trabalho pudesse ser difícil, mas quando presenciamos e experimentamos a prática das Oficinas de Criatividade percebemos que não é difícil, talvez trabalhoso, exigindo paciência e resignação, porém, ao final é gratificante e não desgastante como prevíamos.
Apesar de sermos quase profissionais, ainda tínhamos a impressão impregnada que o idoso era uma pessoa impossibilitada de reagir a realidade devido às suas deficiências, ao tornarmos a experiência uma realidade, vimos que o idoso somos nós, as pessoas comuns, desgastados pela idade, mas com a mesma emoção criativa de continuar a viver, basta ser aflorada.
Ser psicólogo, após os estágios que realizamos e à aplicação das Oficinas de criatividade, é ter uma visão dialética do mundo onde teoria e prática não se desvinculam. Nosso papel em uma Oficina de Criatividade é fazer com que todos os participantes acreditem em suas capacidade como co-criadores de suas próprias vidas.
Finalmente posso dizer que a Oficina de Criatividade abre possibilidades de trabalhar o abandono, a interação, a integração e a condição de vida do idoso institucionalizado.

 
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